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exato momento percebi que o banco não era para mim. Não aguentei uma semana.<br />
Quando avisei que eu não ficaria, a reação do Jorge foi bem-humorada. ‘Achei que<br />
você ia dar um verniz de cultura para essa turma’, ele disse.<br />
O grupo reunido em torno de Jorge Paulo Lemann é provavelmente o mais<br />
importante da história empresarial brasileira na segunda metade do século XX. Mas,<br />
definitivamente, aquela vida não era para mim.”<br />
Se tivesse se adaptado ao ambiente do Garantia, Giannetti poderia ter ganhado<br />
uma grana preta. O banco vivia uma sequência de anos com ótimo desempenho,<br />
mas 1994 foi excepcional, o melhor de sua história. Todos os grandes negócios<br />
passavam pelo Garantia. O banco era a principal escolha de investidores<br />
estrangeiros que desejavam colocar seu dinheiro no Brasil (em parte graças ao<br />
trabalho de formiguinha que o sócio Fred Packard fez durante anos, abrindo portas<br />
no exterior). Sua corretora era a mais poderosa do país, responsável por 7% de toda<br />
a movimentação da Bovespa naquele ano – isso sem levar em conta o que o grupo<br />
movimentou por meio de corretoras de terceiros. O lucro líquido alcançou quase 1<br />
bilhão de dólares e 90% desse volume foi distribuído entre os 322 funcionários.<br />
Como prega a meritocracia de Jorge Paulo Lemann, uns ganharam mais que<br />
outros. Nenhum foi tão feliz quanto o carioca Eric Hime, um brilhante operador com<br />
menos de 30 anos. Segundo a imprensa da época e ex-funcionários do Garantia<br />
ouvidos durante a apuração deste livro, a bolada do jovem foi de 20 milhões de<br />
dólares. Se o valor é uma fortuna nos dias de hoje, imagine há quase duas décadas.<br />
A turma do Garantia se considerava invencível e a concorrência se roía de inveja.<br />
Nada como um retumbante sucesso para esconder o fracasso iminente.<br />
Para quem observava o Garantia de fora, o banco parecia uma máquina<br />
imbatível. Um olhar mais atento, porém, revelaria aqui e ali sinais de que a<br />
formidável engrenagem criada por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto<br />
Sicupira dava sinais de desgaste. A frugalidade e a simplicidade, valores centrais da<br />
cultura do trio, estavam ameaçadas. Com todo aquele dinheiro engordando os<br />
bolsos dos sócios, o espírito quase franciscano que antes tomava conta da instituição<br />
escoou pelo ralo. Os operadores agora tinham aulas de pilotagem de helicóptero<br />
para aprender a guiar seus próprios brinquedinhos. Casas nababescas eram<br />
compradas nas praias mais exclusivas do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo.<br />
Carros de luxo importados começaram a preencher as vagas do estacionamento do<br />
banco. O que havia de errado em aproveitar um pouco todo aquele dinheiro? Anal<br />
não era para car rico que todo mundo ali dava um duro danado? Nada mais justo<br />
que desfrutar um pouco das coisas boas da vida depois de tanto trabalho árduo – era<br />
o que pensavam vários dos novos milionários do Garantia.<br />
O raciocínio aparentemente lógico escondia uma armadilha. Marcel Telles havia<br />
alertado o pessoal para esse risco, em uma carta enviada a todos os comissionados<br />
do banco no dia 19 de agosto de 1988. Este é o trecho em que Telles toca no<br />
problema: