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SONHO GRANDE

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O baque exigiu medidas rápidas e drásticas. O sangue-frio do ex-operador de<br />

mercado entrou em cena. Marcel nunca foi o tipo de pessoa que posterga uma<br />

decisão. Por mais que os reexos de seus atos sejam impopulares, ele age rápido.<br />

Analisou a situação e chegou à conclusão de que os próprios executivos da Brahma<br />

haviam criado uma distorção no sistema de previdência privada da companhia (em<br />

2009, situação semelhante foi um dos principais fatores que levou a montadora<br />

americana General Motors a pedir concordata). Para Marcel, a distorção precisava<br />

ser corrigida – caso contrário colocaria em risco toda a companhia. Ele determinou<br />

que o valor da aposentadoria a que diretores teriam direito seria reduzido à metade.<br />

No caso de gerentes, a diminuição oscilou entre 30% e 40%. Apenas para os<br />

funcionários da base os valores foram mantidos. Foi preciso conversar<br />

individualmente com quase 400 pessoas para chegar ao novo formato do plano<br />

previdenciário. A decisão provocou uma convulsão entre os executivos.<br />

Aos 39 anos, recém-separado da primeira mulher e sem lhos, Marcel<br />

mergulhou no novo trabalho com fôlego redobrado. Com roupas informais, barba<br />

espessa e cabelo farto, que lhe conferiam mais a aparência de um sindicalista que a<br />

de um banqueiro, tratou de conhecer de perto fábricas e revendas da Brahma<br />

espalhadas pelo Brasil. Visitou cervejarias no exterior (inclusive a Anheuser-Busch),<br />

conversou pessoalmente com cada um dos principais executivos. Durante quase todo<br />

o primeiro ano à frente da Brahma, seus sábados foram dedicados a reuniões com<br />

Magim, Brito e Pantera. Elas tinham horário para começar – nove horas da manhã<br />

–, mas não para terminar. Às vezes aconteciam no próprio apart-hotel onde Marcel<br />

morava na época, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ou em sua casa em Búzios.<br />

Nesses encontros, os quatro relatavam tudo o que havia acontecido nos últimos<br />

dias e traçavam a rota para a semana seguinte. O ajuste no era fundamental para<br />

que não perdessem o controle daquele bicho novo que mal conheciam. Marcel<br />

também escrevia cartas periódicas aos seus sócios do Garantia com relatos do que<br />

acontecia na cervejaria. Era uma forma de organizar suas ideias e, em alguma<br />

medida, mostrar que sua ausência do banco valeria a pena para todo mundo. De<br />

novembro de 1989 a janeiro de 1991, mandou para os sócios 13 relatórios.<br />

Assunto para as reuniões de sábado e para as cartas aos sócios não faltava. A<br />

Brahma era um celeiro de burocracia, desperdício e ineciência. Suas despesas<br />

administrativas saltaram de 12% para 17% da receita operacional líquida de 1988<br />

para 1989, num caso raro de custos supostamente xos que se mostraram variáveis.<br />

As fábricas da companhia estavam envelhecidas, com máquinas cuja idade média<br />

era de 40 anos. Os antigos administradores pareciam não se importar com a<br />

obsolescência. Preferiam investir numa reluzente frota de carros – havia mil<br />

automóveis nos estacionamentos da empresa e outros 40 Opala Comodoro estavam<br />

encomendados. Os diretores tinham direito a 45 dias de férias por ano. Os salários<br />

eram em média 30% mais altos que os do mercado – com distribuição de 14 o e até

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