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longo prazo.<br />
Tocar a Brahma exigiria mais que teorias de administração. Telles estava prestes<br />
a entrar em contato com um universo que desconhecia totalmente: fábricas, centros<br />
de distribuição, marketing de produtos de consumo, sindicatos de operários. No<br />
Garantia ele estava à frente de uma equipe de poucas dezenas de pessoas; na Brahma<br />
seriam quase 20 mil funcionários. Para enfrentar esse mundo novo, ele precisaria da<br />
ajuda de gente de primeira linha. Quando chegou à Brahma ele não estava sozinho –<br />
levava um pequeno time formado por Magim Rodrigues, Carlos Brito e Luiz<br />
Cláudio Nascimento, conhecido como Pantera. Cada um havia sido cuidadosamente<br />
recrutado para a missão. Pantera trabalhava no Garantia e seria o responsável pelo<br />
caixa da Brahma. Brito, um jovem engenheiro carioca que havia terminado<br />
recentemente um MBA em Stanford, criaria um modelo de controles gerenciais para<br />
a companhia. Magim, ex-presidente da Lacta e então com 47 anos, seria o braço<br />
direito de Marcel.<br />
Contratar um “forasteiro” para ocupar um posto-chave em suas empresas é<br />
exceção nos negócios de Jorge Paulo, Marcel e Beto. A prioridade sempre foi dar<br />
oportunidade a quem já estava dentro e tinha talento. Mas Magim não era<br />
exatamente um desconhecido. Ele havia conhecido Beto Sicupira anos antes, quando<br />
foi até a Lojas Americanas questionar por que a rede vendia poucos ovos de Páscoa<br />
da Lacta. Pelas contas do executivo, a varejista tinha condições de quintuplicar as<br />
vendas do chocolate que ele fabricava. Beto argumentou que não havia espaço nas<br />
prateleiras para expor tamanho volume de ovos. Magim foi embora, inconformado<br />
com o desfecho da conversa. Horas mais tarde, ligou para o empresário:<br />
– Beto, achei o lugar.<br />
– Ah, é? Então vem aqui. Vamos conversar e alguém nessa companhia vai levar<br />
um esporro por ter deixado espaço ocioso dentro da loja.<br />
A saída proposta por Magim seria adotada não só pela Americanas, mas por<br />
todos os grandes varejistas brasileiros: os ovos deveriam ser pendurados numa<br />
estrutura erguida em cima dos corredores, em vez de ocupar lugar nas prateleiras.<br />
Beto adorou a ideia e decidiu colocá-la em prática. Deu certo. A Lacta vendeu para a<br />
Americanas cinco vezes mais chocolates do que no ano anterior. No sábado de<br />
Aleluia, véspera da Páscoa, o estoque da varejista estava praticamente esgotado.<br />
Depois desse episódio, Magim e Beto mantiveram contato frequente até que o<br />
executivo deixou o comando da Lacta, chamuscado por desentendimentos entre os<br />
acionistas. Para esfriar a cabeça, ele decidiu morar com a família numa casa em<br />
frente à praia de Stella Maris, no norte de Salvador. Durante um ano surfou, jogou<br />
tênis, tomou banhos de sol. Rico graças à antiga vida de executivo, Magim estava<br />
decidido a não mais trabalhar. Catorze meses depois do exílio autoimposto recebeu<br />
uma ligação de Beto, convidando-o para uma reunião no Rio de Janeiro. Magim<br />
relata o encontro:<br />
“Beto falou que eles estavam entrando num novo negócio e que, entre os sócios, o