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SONHO GRANDE

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Mate o concorrente<br />

pelo caixa<br />

N<br />

a história do capitalismo brasileiro poucas disputas foram tão ferrenhas quanto a<br />

travada por Brahma e Antarctica na década de 90. As duas maiores empresas<br />

do mercado cervejeiro do país se engalnhavam pública e ferozmente pela liderança.<br />

Mais que uma guerra entre produtos, o que diferenciava as companhias era seu estilo<br />

de gestão. A Brahma, comandada pela turma do Garantia, seguia uma cartilha que<br />

pregava a informalidade no ambiente de trabalho, a meritocracia e a busca contínua<br />

por melhores resultados. A Antarctica, controlada pela Fundação Zerrenner, era o<br />

oposto, com sua diretoria formada por homens mais velhos e engravatados, que só<br />

tomavam decisões por consenso. Em meados dos anos 90, cada uma detinha cerca<br />

de 30% de participação de mercado. Uma representava o maior obstáculo ao<br />

crescimento da outra. “As duas empresas competiam dia e noite, se matavam para<br />

ganhar mercado”, disse Marcel Telles tempos atrás sobre essa fase. Deixar a rival<br />

ganhar terreno era algo impensável para o pessoal da Brahma. Como se falava<br />

pelos corredores da cervejaria, “lugar de pinguim é na geladeira”, numa irônica<br />

alusão à ave que ilustra o rótulo da Antarctica.<br />

A artilharia para derrubar a concorrente era pesada. A batalha começou<br />

silenciosa, com a busca da Brahma por tornar seu processo de fabricação e<br />

distribuição mais eciente, e ganhou voz com a contratação, em 1990, de Eduardo<br />

Fischer, presidente da agência Fischer, Justus (hoje Fischer & Friends). Aos 30 e<br />

poucos anos, o publicitário deu início ao que caria conhecido como a “guerra das<br />

cervejas”. Ele encomendou uma pesquisa para saber como os brasileiros<br />

costumavam pedir cerveja nos bares do país. As respostas dos consumidores foram<br />

gravadas em vídeo e Fischer se debruçou sobre as imagens. Percebeu que boa parte<br />

dos entrevistados levantava o dedo indicador para mostrar aos garçons que queria<br />

mais uma “gelada”. Era um gesto simples, direto, reconhecido nacionalmente.<br />

Nascia ali o mote para seu novo cliente: a Brahma agora era a “número 1”.<br />

Apoiado no slogan, Fischer fez o diabo. Em 1991 criou o camarote da Brahma,<br />

um espaço superbadalado para que beldades, artistas, políticos e empresários<br />

pudessem assistir com toda a mordomia aos desles das escolas de samba cariocas<br />

no Sambódromo. A grande sacada foi tornar o uso da camiseta com o logotipo da<br />

Brahma obrigatório para todos os convidados. Qualquer celebridade fotografada<br />

para jornais e revistas ou que concedesse entrevistas para emissoras de TV acabava

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