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SONHO GRANDE

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Marcel tomaria conta. Eles queriam que eu embarcasse junto no projeto, mas não<br />

diziam o que era, porque ainda estavam em negociação. Quando perguntei qual era o<br />

ramo e o Beto falou que não poderia contar, avisei que então não dava, que aquela<br />

conversa não tinha sentido. Como eu ia topar sem saber nada? Aí ele soltou que era<br />

no ramo de bebidas. Pensei que devia ser uma franquia da Coca-Cola. Nem me<br />

passou pela cabeça Brahma ou Antarctica, que eram duas companhias pesadas,<br />

velhas, tradicionais... Eu achava que isso não tinha nada a ver com eles... Mesmo sem<br />

muita informação, topei. Eu não conhecia bem o Marcel e o Jorge Paulo, mas gostava<br />

do Beto. Ele tinha um estilo agressivo, dinâmico, trabalhador, sem frescura, que tinha<br />

tudo a ver comigo.”<br />

Durante os meses que antecederam o fechamento da compra, Magim, Pantera e<br />

Brito ocuparam uma sala de reuniões no Garantia para preparar a tomada da<br />

Brahma. Boa parte do tempo de Magim foi preenchida por viagens internacionais.<br />

Ele precisava entender como funcionava o mercado cervejeiro na Argentina, no<br />

Chile, na Alemanha, nos Estados Unidos e no Japão. Era a velha máxima do<br />

Garantia mais uma vez posta em prática: para que começar do zero se era possível<br />

aprender com os melhores do mundo? Tinha funcionado com o Garantia, que<br />

copiou as melhores práticas do Goldman Sachs. Tinha funcionado com a Lojas<br />

Americanas, profundamente inuenciada pelo Walmart. Funcionaria também com<br />

a Brahma. Poucas semanas antes do anúncio da compra, Lemann convenceu Gregg<br />

a autorizar a “contratação” de Magim e Brito pela companhia. O primeiro foi para a<br />

fábrica da cervejaria em Minas Gerais; o segundo, para a unidade de Agudos, no<br />

interior paulista. Quando o dia decisivo chegasse, eles estariam preparados – ou pelo<br />

menos era o que pensavam.<br />

Do mesmo modo que Beto Sicupira viu sua remuneração encolher quando<br />

assumiu o comando da Lojas Americanas, Marcel Telles abriu mão dos bônus<br />

como sócio do Garantia para se tornar o principal executivo da Brahma (ele<br />

continuou recebendo os dividendos distribuídos pelo banco). Para ele isso não era um<br />

problema. Marcel via na Brahma a oportunidade de construir a companhia dos seus<br />

sonhos, uma espécie de Garantia passado a limpo.<br />

No dia 6 de novembro de 1989 ele pisou na cervejaria pela primeira vez. Um<br />

problema inesperado já o aguardava. Na ânsia de fechar o acordo com a Brahma, o<br />

Garantia dispensou a tradicional due diligence, análise detalhada que o comprador<br />

realiza nas contas da empresa a ser adquirida antes que o negócio seja concretizado.<br />

Quando nalmente teve acesso a todos os números, Marcel tomou um susto. O<br />

fundo de previdência da cervejaria tinha um patrimônio de 30 milhões de dólares e<br />

uma necessidade de reservas para cumprir suas obrigações que somava 250 milhões<br />

de dólares – quatro vezes o valor que o banco havia pago para comprar a Brahma.<br />

Hoje, quando comentam o assunto, Marcel, Jorge Paulo e Beto dizem que foi ótimo<br />

não ter feito a lição de casa. Se soubessem o tamanho da encrenca, provavelmente<br />

não teriam levado o negócio adiante.

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