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SONHO GRANDE

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compunham essa faixa embolsavam, além da comissão, dividendos. Ao longo dos<br />

quase 30 anos de história do Garantia, cerca de 40 funcionários alcançaram o topo.<br />

Curiosamente, nunca houve uma mulher no pelotão de elite. A única regra para<br />

chegar a esse olimpo era trazer resultados espetaculares para a instituição e ser aceito,<br />

por unanimidade, pelos demais sócios, que deniam também de quanto seria a<br />

participação do novato. Os potenciais candidatos nunca sabiam se e quando se<br />

tornariam sócios nem qual o tamanho da sua fatia (para alguns ex-Garantia, isso<br />

signicava uma falta de transparência no processo). “Do lucro do banco, 25% eram<br />

distribuídos como participação nos resultados, 15% como dividendos e 60% eram<br />

capitalizados”, explica Baptista. “Era um dogma em que não se podia mexer.”<br />

O sistema de remuneração variável do Garantia era agressivo não apenas se<br />

comparado às empresas brasileiras da época e às subsidiárias das multinacionais,<br />

mas também a outras instituições do mercado nanceiro. Tome-se o exemplo do<br />

Multiplic, comandado pelo mineiro Antonio José Carneiro, conhecido como “Bode”<br />

(um apelido que ganhou ainda na infância por causa do sobrenome), e por Ronaldo<br />

Cezar Coelho. O Multiplic foi fundado no Rio de Janeiro como uma corretora que<br />

anos mais tarde se transformaria em banco – uma rota idêntica à que seria traçada<br />

pelo Garantia. Ao longo da década de 70, cresceu exponencialmente até se<br />

transformar no maior rival do banco comandado por Jorge Paulo Lemann e seus<br />

sócios. De acordo com o livro Passaporte para o ano 2000, escrito pelo executivo<br />

Luiz Kaufmann, diretor-geral do Multiplic de 1985 a 1990, no nal de 1989 o grupo<br />

tinha um patrimônio líquido de 160 milhões de dólares e administrava quase 2<br />

bilhões de dólares em ativos. Mas, ainda que o caminho percorrido tenha sido<br />

parecido, os estilos do Multiplic e do Garantia eram um bocado diferentes.<br />

Numa manhã de fevereiro de 2012, em seu escritório, localizado no último andar<br />

de um prédio de três pavimentos em uma rua tranquila do Leblon e decorado com<br />

duas belíssimas telas do pintor gaúcho Iberê Camargo, Carneiro relembra o<br />

passado. “Nós éramos os donos do mercado”, diz ele, aos 70 anos, sem esconder um<br />

sorriso. A principal razão para as diferenças entre o Garantia e o Multiplic é que,<br />

desde 1978, a instituição comandada por Antonio José Carneiro e Ronaldo Cezar<br />

Coelho tinha um sócio estrangeiro, o inglês Bank of London, com 50% de<br />

participação (o Bank of London seria comprado pelo Lloyd’s Bank anos depois).<br />

Nesse caso, distribuir ações entre os funcionários signicaria desequilibrar a balança<br />

– algo que nenhum dos lados queria. “Nós pagávamos salários mais altos,<br />

distribuíamos bônus no nal do ano, mas oferecer sociedade não dava”, diz<br />

Carneiro, que começou sua carreira como caixa de uma agência do Banco Mercantil<br />

de Minas Gerais, no Rio de Janeiro. Depois de vender a participação dos brasileiros<br />

para o Llyod’s em 1997 por 600 milhões de dólares, Carneiro passou a investir em<br />

diferentes negócios, de agências de publicidade a construtoras. Em 2012 boa parte de<br />

sua fortuna provinha da participação em empresas de energia elétrica.<br />

No Garantia, ao contrário do que acontecia no Multiplic, era possível se tornar

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