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SONHO GRANDE

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eais à CVM. Para muita gente, o desfecho soou como admissão de culpa. O<br />

advogado Paulo Aragão, que os defendeu no caso, tem outra explicação. “A<br />

premissa formal dos termos de compromisso da CVM é exatamente que não há<br />

admissão de culpa nem reconhecimento de inocência”, diz ele. “Nosso objetivo foi<br />

simplesmente colocar uma pedra no assunto.”<br />

Ao longo de décadas Jorge Paulo Lemann e seus sócios se habituaram a comprar<br />

empresas e impor sua cultura baseada em meritocracia. Quando o Garantia<br />

arrematou a Lojas Americanas, Beto Sicupira teve carta branca para imprimir seu<br />

estilo à varejista. Em pouco tempo ele trocou os principais executivos, mudou o<br />

sistema de remuneração variável, estabeleceu metas para os funcionários. Um<br />

roteiro semelhante foi percorrido por Marcel Telles anos depois, quando o banco<br />

adquiriu o controle da Brahma. Nos dois casos, Beto e Marcel eram, de fato e de<br />

direito, os novos donos daquelas companhias e podiam fazer o que julgassem<br />

necessário para melhorar seus resultados. Eles não tinham que compor com outros<br />

acionistas nem se preocupar em ser populares. Os funcionários que não gostassem<br />

das novas regras que fossem embora.<br />

O negócio com a Interbrew, porém, exigiu outra abordagem. Dessa vez eles não<br />

eram os conquistadores. A Ambev havia sido comprada e os empresários<br />

brasileiros não podiam simplesmente chegar na sede da InBev impondo sua<br />

losoa. Sutileza, diplomacia e uma certa dose de paciência seriam fundamentais. O<br />

jogo teria regras diferentes daquelas com as quais estavam habituados. Era preciso<br />

se adaptar aos novos termos.<br />

Logo após a conclusão do negócio, representantes das três famílias belgas<br />

acompanharam Jorge Paulo, Marcel e Beto em uma viagem até o Colorado para<br />

participar de um dos tradicionais workshops com Jim Collins. “Jorge dizia que era<br />

preciso criar uma cultura única na empresa e que o conselho de administração seria<br />

o melhor ponto de partida para isso”, arma Collins. Ninguém melhor que ele, um<br />

dos mentores de Jorge Paulo, para ajudar a unificar essa filosofia.<br />

Pelas regras estabelecidas na negociação, o americano John Brock, CEO da<br />

Interbrew, comandaria a InBev. Em contrapartida, o principal executivo nanceiro<br />

da cervejaria seria Felipe Dutra, da Ambev. O comitê de integração, cheado por<br />

Marcel, imediatamente entrou em operação para identicar os melhores processos e<br />

pessoas de cada empresa. “Desde o começo cou claro para os principais executivos<br />

oriundos da Interbrew que, embora as principais decisões fossem tomadas em

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