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SONHO GRANDE

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Não era exatamente a primeira vez que a Brahma sugeria algo desse tipo para a<br />

Antarctica. No nal de 1998 Magim chegou a abordar De Marchi, mas o diretor da<br />

cervejaria paulista desconversou. Dessa vez, com o agravamento da situação da<br />

Antarctica, sua reação foi diferente. De Marchi disse que debateria a proposta com o<br />

conselho da cervejaria. No dia seguinte, telefonou para Marcel e avisou que os<br />

conselheiros estavam dispostos a discutir a proposta.<br />

Meses antes de abordar a Antarctica, a Brahma havia chegado muito perto de<br />

comprar a colombiana Bavaria. O negócio empacou porque as partes não<br />

chegaram a um consenso em relação ao preço. Depois de muita negociação, a<br />

Brahma ofereceu aos colombianos 1,8 bilhão de dólares pela cervejaria – 500<br />

milhões no ato e o restante no futuro, com a ajuda da geração de caixa da<br />

companhia. O pessoal da Bavaria pedia mais: 2,2 bilhões de dólares e um prazo<br />

mais curto para o pagamento. Marcel Telles queria muito concluir aquela transação.<br />

Pensou. Consultou os sócios. Discutiu o assunto com Magim Rodrigues. Concluiu<br />

que o preço estava alto demais e as condições de pagamento poderiam estrangular o<br />

caixa da Brahma. Acabou por abortar a operação. Embora frustrante no momento,<br />

a decisão se mostrou providencial. Se tivesse arrematado a Bavaria, a Brahma não<br />

teria como partir para cima da Antarctica – pelo menos não naquele momento.<br />

Com o sinal verde do conselho de administração da cervejaria paulista, Marcel<br />

procurou o advogado Paulo Aragão, sócio do escritório BMA, para ajudá-lo a<br />

estruturar uma proposta. Aragão é um sujeito de fala pausada, raciocínio cristalino e<br />

tom ligeiramente professoral. Havia anos que se tornara próximo de Marcel e seus<br />

sócios. Nos anos 80, ele havia ajudado Beto Sicupira a montar o programa de<br />

remuneração variável da Lojas Americanas. Na década seguinte, foi sócio da GP<br />

Investimentos. Fazia tempo que Aragão estava a par das ambições do trio de<br />

transformar a Brahma em uma cervejaria com alcance global. Em 1994, numa<br />

viagem aos Estados Unidos com Beto Sicupira e Roberto ompson, ele marcou<br />

uma conversa com advogados da Skadden, Arps, Sleate, Meagher & Flom, uma das<br />

mais prestigiadas bancas do mundo. Logo no início da reunião, Beto perguntou aos<br />

americanos como ele poderia comprar a Anheuser-Busch. Os advogados da<br />

Skadden, como é de se imaginar, caram perplexos. “Era como se a gente estivesse<br />

dizendo que queria comprar a Basílica de São Pedro”, lembra Aragão, aos risos.<br />

Educadamente, em poucos segundos os americanos mudaram de assunto.<br />

Cinco anos depois daquele episódio, o aparente delírio de Beto começava a tomar<br />

forma. O Projeto Sonho, como foi batizado o plano de compra da Antarctica, seria o<br />

primeiro passo para fazer da Brahma a maior cervejaria do mundo. Para chegar lá<br />

os controladores da empresa deveriam superar uma série de obstáculos. O primeiro,<br />

convencer os acionistas da Antarctica a vender a companhia. Além de chegar a um<br />

valor que acomodasse os interesses das duas partes, a Brahma teria de se mostrar<br />

hábil o suciente para não ferir suscetibilidades – o negócio deveria ser anunciado<br />

como uma “fusão”, e não como uma aquisição, o que de fato era (na Ambev

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