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Club do Rio, apesar de ter levado bola preta dos demais sócios (o que na prática o<br />
impossibilitava de usufruir do clube ainda que fosse dono do título), Arinos se<br />
recusava terminantemente a vender sua fatia no Garantia. Permaneceu até 1998,<br />
quando o banco foi parar nas mãos do Credit Suisse (Arinos faleceu em outubro de<br />
2011, aos 96 anos).<br />
Ao conseguir comprar as participações de Ramos da Silva e Gentil, Jorge Paulo<br />
Lemann pôde acelerar a distribuição das ações entre o pessoal mais jovem. A<br />
participação inicial de Jorge Paulo no Garantia, que era de 25%, chegou a mais de<br />
50% em 1978. Depois foi paulatinamente diminuindo à medida que vendia ações da<br />
instituição para os novos sócios. Essa administração da sociedade era uma tarefa<br />
delicada, que exigia dedicação constante. O carioca Marcelo Medeiros, sócio do<br />
Garantia nos anos 90, lembra como o banqueiro lidava com a questão:<br />
“Ele pensava o tempo todo em como a sociedade tinha que evoluir... Nas reuniões<br />
para decidir a entrada de novos sócios ele tirava um papelzinho do bolso e dizia quem<br />
tinha que vender participação, quem tinha que comprar e quanto... Distribuía as<br />
ações e ajustava a sociedade. A discussão sobre a entrada de novos sócios era muito<br />
conduzida por ele. Mesmo quando o Jorge Paulo estava quieto, todo mundo sabia que<br />
precisava apresentar argumentos que ele aceitasse...”<br />
Quando o Garantia passou para as mãos do Credit Suisse em 1998, Jorge Paulo<br />
Lemann já havia transferido quase metade de sua participação – sua fatia era, então,<br />
inferior a 30% do capital.<br />
No nal dos anos 70, o Garantia contava com quase 200 funcionários, a maioria<br />
formada por homens na faixa dos 20 e poucos anos e com o tal perl “PSD”. Todos<br />
sonhavam com o topo prometido e faziam quase tudo para chegar lá. Constranger<br />
um colega na frente de outras pessoas durante as avaliações semestrais era comum.<br />
Como a hierarquia tinha pouca importância ali, passar por cima do chefe e falar<br />
diretamente com o superior dele também fazia parte das práticas corriqueiras. De vez<br />
em quando os ânimos se exaltavam de tal maneira que discussões se<br />
transformavam, literalmente, em pancadaria – numa ocasião, um operador virou<br />
um balde cheio de água na cabeça de um desafeto, em plena mesa de trabalho.<br />
Tiveram de ser separados pelos colegas.<br />
Quase uma dezena de pessoas entrevistadas para este livro utilizaram a expressão<br />
“panela de pressão” para descrever o dia a dia no banco. O ex-sócio Alex Abeid faz<br />
uma analogia formidável: “Era como se você jogasse numa jaula cinco gorilas e