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disse ele aos sócios. O banqueiro e Fred Packard começaram então a negociar a<br />
compra de papéis da varejista na bolsa e com grandes acionistas, como o investidor<br />
Mario Serpa, que detinha quase 10% da companhia.<br />
Beto Sicupira logo notou que ali havia uma grande oportunidade – não só para o<br />
banco como para ele próprio – e também abraçou o projeto. Em 1981, o Garantia<br />
já detinha participação relevante o suciente para assegurar um assento no conselho<br />
de administração. Beto foi o escolhido. Ele passou a frequentar as reuniões<br />
carregando embaixo do braço um caderno de capa vermelha, no qual anotava todas<br />
as informações que ouvia e lia. Cruzava os dados das reuniões com outros<br />
disponíveis. Conversava com funcionários. Comparava o desempenho da<br />
Americanas com o dos concorrentes. Estudava os movimentos do varejo lá fora.<br />
Em pouco tempo ninguém sabia com tantos detalhes como funcionava a Lojas<br />
Americanas quanto Beto Sicupira.<br />
Para fazer caixa e ter condições de assumir o controle da Americanas, o Garantia<br />
vendeu sua participação na São Paulo Alpargatas para a Camargo Correa. “Fiquei<br />
dois anos enchendo o saco do Sebastião Camargo (fundador do grupo) para<br />
convencê-lo a comprar aquilo”, arma Luiz Cezar Fernandes. Com o dinheiro na<br />
mão, Jorge Paulo foi até a sede do Banco Itaú, em São Paulo, para ter uma<br />
conversa com o engenheiro Olavo Setúbal, dono da instituição e ex-prefeito de São<br />
Paulo. Lá ele explicou que precisava do bloco que o Itaú detinha na Lojas<br />
Americanas para assumir o controle da varejista e recolocá-la no prumo. Setúbal,<br />
convencido pelo discurso entusiasmado, topou a oferta.<br />
Não era apenas o início da transformação do banqueiro Jorge Paulo Lemann no<br />
empresário Jorge Paulo Lemann. Todos os sócios do banco na época,<br />
independentemente de estarem envolvidos com o negócio, tiveram a chance de entrar<br />
na transação e se tornar donos da Lojas Americanas (quem virou sócio do banco<br />
depois da aquisição não ganhou participação na varejista). Jorge Paulo estava<br />
mudando o rumo de sua carreira – e levava gente como Beto Sicupira, Marcel Telles<br />
e Luiz Cezar Fernandes com ele.<br />
Delicadeza no ambiente de trabalho nunca foi o forte de Beto Sicupira. No Garantia<br />
se tornaram lendárias as cenas de destempero protagonizadas por ele. “Trator” e<br />
“dono da verdade” são algumas das expressões mais usadas por antigos colegas do<br />
banco para descrever seu temperamento mercurial. No dia a dia, ele nunca<br />
economizou gritos, palavrões e murros na mesa para fazer valer sua opinião. “É<br />
mais fácil segurar um louco do que empurrar um burro” é uma de suas frases