editorial Armando Ferrentini aferrentini@editorareferencia.com.br Confundir sem explicar Uma vez mais somos obrigados a abordar a política nacional e alguns dos seus protagonistas, neste editorial que <strong>de</strong>veria se ater mais aos fatos recentes da comunicação do marketing. Po<strong>de</strong>ríamos comemorar a melhora que já se verifica no mercado, embora ainda tímida, com a publicida<strong>de</strong> voltando a ser parte importante nos espaços e na secundagem das mídias, o que ainda não significa o fim da crise, mas já um bom aceno <strong>de</strong> que <strong>de</strong>le estamos nos aproximando. Temos, porém, <strong>de</strong> falar da política, combustão sem a qual a or<strong>de</strong>m econômica <strong>de</strong>sanda. E aqui queremos nos referir obviamente à boa política, a que proporciona a eficiente gestão da coisa pública, espalhando confiança na população e incentivando os investidores a confiar no país. me população, milhões <strong>de</strong> pessoas crédulas, que po<strong>de</strong>m não acreditar em papai-noel, mas, por ingenuida<strong>de</strong> ou necessida<strong>de</strong>, acreditam nesses biotipos <strong>de</strong> salvadores da pátria que com frequência têm aparecido na história do Brasil. E o que ele disse foi o mesmo <strong>de</strong> sempre: pobre e vencedor, <strong>de</strong>sperta a ira dos po<strong>de</strong>rosos, que não querem que outros pobres como ele an<strong>de</strong>m <strong>de</strong> avião. Bem a propósito, essa figura <strong>de</strong> retórica é mais uma das suas inverda<strong>de</strong>s, pois, muito antes <strong>de</strong>le aparecer no cenário político nacional, as empresas aéreas já trabalhavam, através <strong>de</strong> criativas campanhas publicitárias, as classes menos favorecidas da população brasileira a viajar em seus aviões, conce<strong>de</strong>ndo facilida<strong>de</strong>s como o crediário e outras situações vantajosas, como o uso da milhagem para a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viajar, algumas vezes até <strong>de</strong> graça. Todavia, <strong>de</strong>sgraçadamente, mesmo após o impeachment da então presi<strong>de</strong>nte da República Dilma Rousseff, seguido pela queda do in<strong>de</strong>sejável Eduardo Cunha, com seu mandato parlamentar cassado por esmagadora maioria dos seus pares, ainda temos <strong>de</strong> conviver com o inconformismo do folclórico chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos do país. Fosse ele realmente patriota, sujeitar-se-ia a um silêncio obsequioso, na certeza <strong>de</strong> que assim contribuiria melhor com o povo que diz tanto ter amado e que, sem dúvida, boa parte <strong>de</strong>sse mesmo povo soube retribuir. Ocorre que a sua escassez cultural e consequente falta <strong>de</strong> discernimento sobre o valor das coisas e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r quando é hora <strong>de</strong> falar e hora <strong>de</strong> calar tumultuaram, uma vez mais, o país na última quinta-feira (15), quando discursou para uma plateia fechada em São Paulo, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outros, sobressaíam como papagaios <strong>de</strong> pirata, se esforçando para aparecer nas fotos e telas, os senadores Gleise “cabelos black blocs” Hoffmann e o ex-presi<strong>de</strong>nte da UNE, Lin<strong>de</strong>nberg Farias. A plateia era realmente fechada e até mesmo os jornalistas presentes não pu<strong>de</strong>ram fazer perguntas ao principal e único orador, mas os meios que ele tanto acusa <strong>de</strong> tramarem contra si, por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ofício, <strong>de</strong>ram ampla cobertura a mais uma das suas bravatas <strong>de</strong> palanque. Então ele se sentiu à vonta<strong>de</strong>, chegando até mesmo a chorar um choro <strong>de</strong> jararaca ou crocodilo, como queiram os leitores. E isso foi visto e ouvido por todo o país, que possui, entre a sua enor- O curioso nessa história é que, coincidindo com o início do seu primeiro governo na Presidência da República e até muito recentemente, a classe operária e os <strong>de</strong>mais usuários dos assentos econômicos nos voos da aviação comercial passaram a pagar mais por isso. A consequência <strong>de</strong>ssa sua fala, que lembrou o talentoso Abelardo “Chacrinha” Barbosa, com o seu bordão “Não vim para explicar, vim para confundir”, foi um certo estremecimento na opinião pública brasileira, com gente importante como alguns formadores <strong>de</strong> opinião passando a criticar os corajosos integrantes do Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral pelo “circo” que teriam armado para explicar a sua <strong>de</strong>núncia. Cada um enten<strong>de</strong> como quer. Nosso entendimento foi o <strong>de</strong> que estavam prestando contas à nação <strong>de</strong> um trabalho que envolve a culpabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ex-presi<strong>de</strong>nte da República, que <strong>de</strong>ve ter sofrido todo o tipo <strong>de</strong> pressão para não ser concluído da forma como acabou sendo. Bem, se Lula quis confundir mais uma vez, conseguiu. Tomou- -se o direito <strong>de</strong> não explicar o que lhe havia sido imputado na <strong>de</strong>núncia, não permitindo inclusive, como já acima registramos, que jornalistas lhe fizessem perguntas. Não chegamos ao ponto <strong>de</strong> afirmar que o <strong>de</strong>nunciado virou o jogo. Muito longe disso, o juiz Sergio Moro vai <strong>de</strong>monstrar nos próximos dias. Mas, uma vez mais, atrapalhou o voo do país que tenta sair do chão, on<strong>de</strong> se encontra <strong>de</strong>vido aos estragos que o <strong>de</strong>nunciado e sua trupe têm lhe imposto durante muitos <strong>de</strong>stes últimos longos anos. FraSeS “tenho muitos medos. o maior <strong>de</strong>les é o <strong>de</strong>, algum dia, precisar lembrar às pessoas quem sou eu”. (Alex Periscinoto, no livro que leva o seu nome, em coautoria com Izabel Telles, Editora Best Seller) “Se não <strong>de</strong>rmos o golpe, eles o darão contra nós”. (Leonel Brizola, às vésperas do golpe militar <strong>de</strong> <strong>19</strong>64, narrado no livro A História do Brasil em frases, <strong>de</strong> Jaime Klintowitz, editado pela Texto Editores, do Grupo LeYa) “Não temos como provar, mas temos convicção”. (Frase não dita pelos Procuradores da República, explicando a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> Lula da Silva na última quarta-feira (14) e, segundo consta, inventada por um blog) “Se esta obra fosse um disco, seria um álbum triplo. Se fosse um filme, seria um épico. Se fosse uma série <strong>de</strong> tevê, seria sucesso por muitas temporadas. Uma história que, se não fosse real, seria difícil <strong>de</strong> acreditar”. (Washington Olivetto, sobre o livro Do vinil ao download, <strong>de</strong> André Midani, editado pela Nova Fronteira. A frase está impressa na quarta capa do livro) 4 <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark