E, todavia, o antigo princípio vitoriano da igual soberania dos Estados, sancionado pelo art. 2º daCarta, é hoje, mais do que nunca, desmentido pela concreta desigualdade entre eles, fruto inevitávelda prevalência da lei do mais forte e, portanto, pela existência de soberanias limitadas, repartidas,dependentes, endividadas, diferenciadas. Falar em “Estados soberanos”, se já não é aceito no planoda teoria do direito, também não o é no plano da teoria política.De fato, o que entrou irreversivelmente em crise, bem antes do atributo da soberania, éprecisamente seu sujeito: o Estado nacional unitário e independente, cuja identidade, colocaçãoe função precisam ser repensadas à luz da atual mudança, de fato e de direito, das relaçõesinternacionais. 3Talvez daí surja uma das explicações do ressurgimento da “febre integracionista” e de tantasassociações, parcerias, cooperações bi e multilaterais e, principalmente, a enxurrada de tantas novasOrganizações Internacionais que, muitas vezes têm seu objeto e atuação tão difusos e complexos.De todas as diversas áreas de poder que Estados (e também alguns de seus entes internos, nãonecessariamente estatais, como os gr<strong>and</strong>es conglomerados de mercado), certamente, a segurança edefesa 4 são os mais sensíveis e mais relutantemente concentrados. Ao mesmo tempo em que paísestidos como potências militares têm participações mais tímidas nessas operações, o que reforçariaposturas mais realistas de afirmação do seu poder sem a necessidade de integrar ações multinacionais,países com desejo de ascensão e reconhecimento têm se engajado sob uma perspectiva mais idealistade partilha de poder. Portanto, o enfoque e aumento das Operações de Paz pós-Guerra Fria parececonfluir e aproveitar-se das correntes construtivistas de estruturação da paz mediante uma construçãosocial de diversos atores. 5O período da Guerra Fria, fruto da dicotomia leste-oeste, caracterizou-se pela maior imobilidade daONU em decorrência de interesses opostos entre as duas maiores potências da época que rivalizavamem ideologias e áreas de influência. Somente com o desmoronamento da “cortina de ferro”, no finalda década de 1980, ou seja, com o final da chamada Era Bipolar 6 , é que, sob nova ordem mundialde poder, o CSNU passou a atuar mais frontalmente na tutela de diversos conflitos que, antes, via-seimpotente em atuar. Nesse novo cenário geopolítico, as Operações de Paz capitaneadas pela ONUsurgiram como o principal braço avançado da instituição para auxiliar a preservação da paz nosconflitos que passaram a eclodir. Mudaram-se os tempos, o cenário internacional, e a ONU precisavatambém se readequar às modificações.O rejuvenescimento da ONU, ao início dos anos 90, foi acompanhado de uma evolução rápidada natureza das OMP. Para traduzir esse fenômeno, a doutrina utiliza freqüentemente a expressão“gerações de OMP”. A primeira geração de OMP reúne as OMP chamadas clássicas, foi utilizada nainterposição entre dois Estados beligerantes. A segunda é simbolizada pelas OMP cujo m<strong>and</strong>ato é3FERRAJOLI, Luigi. A soberania no mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2002.4A distinção entre os conceitos de segurança e defesa é complexa e controversa. Assim optou-se por concordar-se com os conceitos abrangentes deque Segurança está mais afeta a uma sensação, ou seja, um sentimento compartilhado de confiança mútua na previsibilidade da continuidade semsobressaltos de instabilidade. Defesa pode ser conceituada como a opção de contrapor-se a eventuais ameaças, sejam elas quais forem: militares,cibernéticas, ambientais, etc. Portanto pode-se associar segurança à capacitação enquanto defesa estaria mais afeta às vulnerabilidades. Assim, optamospor concordar com os conceitos abrangentes que se seguem: Segurança e Defesa são interdependentes e abrangem as razões e políticas do Estadodemocrático tanto interna como externamente. Contêm e legitimam uma das mais importantes prerrogativas da autoridade pública que é o monopóliolegítimo e legal do uso da força para manter a ordem democrática. Segurança é o dever do Estado de criar condições para que o indivíduo possa viver emcomunidade livre de ameaças, em liberdade e bem estar; é um estado em que a satisfação de necessidade e desejo está garantida pelo caráter daquilo queé firme ou daquele com quem se pode contar ou a quem se pode confiar inteiramente; a tranqüilidade que dela resulta é a situação em que não há nada atemer. Defesa é meio ou método de proteção; capacidade de resistir a ataque; equipamento ou estrutura de proteção; complexo industrial que autoriza esupervisiona a produção e aquisição de armamentos e demais recursos militares afins. Ainda assim, sugere-se para maior e mais aprofundada elucidaçãodos conceitos a obra ALMEIDA PINTO, J.R. de; ROCHA, A.J. Ramalho da; PINHO DA SILVA, R. Doring (Organizadores). Reflexões sobre defesa esegurança : uma estratégia para o Brasil . Brasília: Ministério da Defesa, Secretaria de Estudos e de Cooperação, 2004. E, ainda: RÜHLE, Michael,“<strong>Defense</strong> <strong>and</strong> <strong>Security</strong>: NATO takes on new tasks”, European Affairs, Winter 2003.5Ver, por exemplo, o artigo de John Mearsheimer: Mearsheimer, J. “Back to the future: Instability in Europe after the Cold War”. International <strong>Security</strong>,v. 15, n.1, p. 5-56, 1990.6SILVA, F. C. Teixeira da. O século sombrio: guerras e revoluções do século XX, 2004.90<strong>Security</strong> <strong>and</strong> <strong>Defense</strong> <strong>Studies</strong> <strong>Review</strong> <strong>2010</strong> <strong>Fall</strong>-Winter Issue / Edicíón Otoño-Invierno <strong>2010</strong> / Edicão Outono-Inverno <strong>2010</strong> / Volume 11
em mais amplo e complexo. 7A possibilidade de conflitos (tanto interestatais quanto intra-estatais) permanece, cada dia maisacesa. O privilégio ao direito internacional parecia evidente ao final da Guerra Fria e havia esperançados Estados em virem a desfrutar de um período de almejada paz. Assim, os conflitos deveriam,naturalmente, extinguirem-se. Não foi o que se efetivou. Para gr<strong>and</strong>e espanto dos observadores,inúmeros conflitos que haviam atravessado toda a segunda metade do século XX mantinham-seacesos e provoc<strong>and</strong>o imensa dor. 8 A Carta da ONU, escrita ao final da Segunda Guerra Mundial,denota a pretensão de contemplar apenas seu maior receio pós-guerra, ou seja, litígios interestatais,uma vez que os conflitos intra-estatais eram de menor visibilidade. Entretanto, os conflitos decorrentesdo processo de descolonização passaram a exigir uma interpretação mais flexível do texto da Carta,que vem sendo aplicada, mutatis mut<strong>and</strong>is, às disputas intra-Estados.A análise pretendida contemplará o período de vinte anos de gr<strong>and</strong>es transformações que ocorreudesde o início do desfalecimento da guerra fria (1988) até o final de 2007, qu<strong>and</strong>o a ONU completavasessenta anos de existência. Pretende-se apresentar uma visível mudança de enfoque no uso dasOMP durante esses vinte anos, contrapondo-os aos 40 anos anteriores da Organização que foram dequase inação. A dicotomia entre neo-realistas e idealistas parece ter encontrado nesse tipo de tutela“quase supra-Estatal” um ponto de contato que floresceu num aumento exponencial de Operaçõesempreendidas.Diante do período analisado, verifica-se que a maior ou menor participação dos Estados nessasOMP pode ser analisada busc<strong>and</strong>o-se a categorização de países de acordo com seus interesses emintegrar tais operações. Essa nova taxonomia proposta pretende apresentar que, nem sempre a buscapor idéias de paz ou de solidariedade entre Estados é que são os motores dessas participações. Outrosinteresses diante da nova ordem mundial parecem se sobrepor. Partindo da análise do quadro departicipações no período enfocado pode-se verificar que há estratégias diferentes e identificáveis dosEstados por essa opção.Este trabalho pretende analisar, particularmente, o caso brasileiro. O Brasil, bem como outrospaíses do subcontinente sulamericano, passou por profundas reformulações nos vinte anos doperíodo enfocado. A redemocratização do país se consolidou a partir da nova Constituição de 1988e, com ela, novas perspectivas e opções de sua política externa podem ser visualizadas. Apesar de aanálise ter que fazer uso de documentação e instrumentos legais anteriores a 1988, o ordenamentojurídico brasileiro e a situação política interna e externa anteriores a esse ano eram bastante diversosdos atuais. O ano de 1988, no ambiente externo, talvez não reflita com exatidão a inflexão do períododa Guerra Fria para a Nova Ordem Mundial. A maior parte das gr<strong>and</strong>es mudanças no cenário externotiveram início no final da década de 1980 e se estenderam até o início da década de 1990, sendomelhor retratadas em um triênio 1988-1991. No entanto, tendo em vista o argumento interno deinflexão na promulgação da Constituição de 1988, optou-se por demarcar o período de estudo de1988 em diante.A opção pelo caso brasileiro teve especial enfoque por representar um país que modificoumarcadamente sua postura durante o período e, também, por permitir uma reflexão sobre suaspretensas e/ou comprovadas aspirações no cenário internacional. Ainda que o enfoque do estudo7PETTI,Y. Droit international du mantien de la paix, 2000: 59 El renouveau de l’ONU du début des annés 1990 s’est accompagné d’une evolutionrapide de la nature de OMP. Pour traduire ce phénomìne, la doctrine utilizé fréquentmment le vocable de ‘génération d’OMP’. La première générationregroupe les OMP classiques dont l’ objet est l’interposition entre deux belligérants. La seconde génération est symbolisée par des OMP dont le m<strong>and</strong>atest trés large e la comlexité accrue. (tradução minha)8Idem.<strong>Security</strong> <strong>and</strong> <strong>Defense</strong> <strong>Studies</strong> <strong>Review</strong> <strong>2010</strong> <strong>Fall</strong>-Winter Issue / Edicíón Otoño-Invierno <strong>2010</strong> / Edicão Outono-Inverno <strong>2010</strong> / Volume 11 91
- Page 2 and 3:
Security and Defense Studies Review
- Page 4 and 5:
CommentariesSecurity Cooperation Be
- Page 6:
6Security and Defense Studies Revie
- Page 9 and 10:
El espacio de las mujeres en las Fu
- Page 11 and 12:
La organización e institucionaliza
- Page 14 and 15:
encuentra altamente asociada al cam
- Page 16 and 17:
ministerial para la equidad de gén
- Page 19 and 20:
BibliografíaBarrancos, Dora (2007)
- Page 21 and 22:
Anexo IPaísIncorporación Femenina
- Page 23:
Anexo IIMujeres militares sudameric
- Page 26:
Todo un conjunto de cualidades, cap
- Page 29:
500 y durante la Batalla de Sarand
- Page 32 and 33:
miembros de la soberanía de la Nac
- Page 34 and 35:
10 de octubre de ese año, la Compa
- Page 36 and 37:
algunos barcos de apoyo para alberg
- Page 38 and 39:
1.75 metros de altura y como requis
- Page 40 and 41: de producción sustituyendo al homb
- Page 42 and 43: y sicológica, no sólo en los ámb
- Page 44 and 45: La segunda etapa se caracterizó po
- Page 46 and 47: Sin embargo, las preguntas acerca d
- Page 48 and 49: La normativa vinculada con la asign
- Page 50 and 51: conductas que pudieran encuadrarse
- Page 52 and 53: Género en el marco de las Operacio
- Page 54 and 55: ecordar que las ciencias sociales y
- Page 56 and 57: 56Security and Defense Studies Revi
- Page 58 and 59: De ese modo nos encontramos con mod
- Page 60 and 61: escala descendente de la oficialida
- Page 62 and 63: del total. Debe destacarse que dent
- Page 64 and 65: BibliografíaCarreiras, H.: Gender
- Page 66 and 67: Tras la aprobación de esta histór
- Page 68 and 69: Una vez aprobada la Resolución 132
- Page 70 and 71: para designar asesores de género e
- Page 73 and 74: firme se ha materializado en la ado
- Page 76 and 77: la construcción de la paz, la reco
- Page 78 and 79: Sin embargo, a medida que avanzaba
- Page 81 and 82: Women on the Front Lines of the Fig
- Page 83 and 84: term even has meaning any longer wi
- Page 85 and 86: following graduation. 15 Of course,
- Page 87 and 88: including members from other Americ
- Page 89: Solidariedade ou interesse? O que l
- Page 93 and 94: Participação dos Estados-Membros
- Page 95: sujeitos a alguma OMP. Aqueles que,
- Page 98 and 99: às recomendações das Fases II, I
- Page 100 and 101: Franco, que assumira após o Impeac
- Page 102 and 103: O Brasil, por intermédio do Presid
- Page 104 and 105: No entanto, no tocante especificame
- Page 106 and 107: Portanto, não se consegue visualiz
- Page 108 and 109: ReferênciasAlmeida Pinto, J.R. de;
- Page 110 and 111: ______. United Nations Department o
- Page 112 and 113: Beyond economic activities, the PRC
- Page 114 and 115: soy oil into the country, a flow wh
- Page 116 and 117: As is the case with Chinese investm
- Page 118 and 119: In some cases, Chinese companies, l
- Page 120 and 121: Although it is not possible to pred
- Page 122 and 123: Considering this, we will now go fr
- Page 124 and 125: The contribution of Chilean troops
- Page 126 and 127: within and outside the nation?3. Ho
- Page 128 and 129: 128Security and Defense Studies Rev
- Page 130 and 131: 130Security and Defense Studies Rev
- Page 132 and 133: the Iran-Contra affair, one of the
- Page 134 and 135: all American hostages were released
- Page 136 and 137: “As he frequently said with pride
- Page 138 and 139: making operation 48 was conducted s
- Page 140 and 141:
secret army alongside skilled profi
- Page 142 and 143:
public than Kelly, taking issue wit
- Page 144 and 145:
Some conservatives, even within the
- Page 146 and 147:
opponents that he was “getting pr
- Page 148 and 149:
for Defense (SUBDEF)—could initia
- Page 150 and 151:
Hence, our countries are showing a
- Page 152 and 153:
I am referring to Ibero-American Su
- Page 154 and 155:
Thus, our country has agreed to the
- Page 156 and 157:
sustraer mi producción intelectual
- Page 158 and 159:
hombres (22,288).• Inclusión. Al
- Page 160 and 161:
La perspectiva de trabajar en el di
- Page 162 and 163:
162Security and Defense Studies Rev
- Page 164 and 165:
assignment on the U.S. Secretary of
- Page 166 and 167:
las Operaciones de Paz se abren a u
- Page 168 and 169:
ConclusiónA modo de conclusión, u
- Page 170 and 171:
170Security and Defense Studies Rev
- Page 172 and 173:
offering insight into political ter
- Page 174 and 175:
goods, and skilled labor must all b
- Page 176 and 177:
country” like North Korea. To be
- Page 178 and 179:
178Security and Defense Studies Rev
- Page 180 and 181:
views of women, in effect disabling
- Page 182 and 183:
Marine Col. William T. Hewes’ arg
- Page 184 and 185:
19. Hughes, Melanie M. (2007) “Un
- Page 186 and 187:
MacEoin. Commonweal 14: 8-11.This i
- Page 188 and 189:
37. Sans Echaìniz, María. (1992)
- Page 190 and 191:
47. Woodward, Rachel, and Patricia
- Page 192 and 193:
elucidativos das dificuldades que e
- Page 194 and 195:
194Security and Defense Studies Rev
- Page 196 and 197:
of an integrated Canadian company i
- Page 198 and 199:
198Security and Defense Studies Rev
- Page 200 and 201:
stated it would rightfully infringe
- Page 202 and 203:
First, through an examination of de
- Page 204 and 205:
204Security and Defense Studies Rev
- Page 206 and 207:
impact on the reader, by acknowledg
- Page 208 and 209:
To the Editor:Kevin P. Newmeyer’s
- Page 210 and 211:
Whitney Hoft was a Center for Hemis
- Page 212 and 213:
The transformation of the role of w
- Page 214 and 215:
en Puerto Rico, esta soldada resume
- Page 216 and 217:
Deconstruyendo a Ollie: Cómo los c
- Page 218:
Center for Hemispheric Defense Stud