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o impacto das cotas nas

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O impactO <strong>das</strong> cOtas <strong>nas</strong> universidades brasileiras (2004-2012) • 11<br />

As razões são várias. O receio de tornar públicos possíveis dados<br />

negativos, devido à forte reação midiática às <strong>cotas</strong>, principalmente às<br />

destina<strong>das</strong> aos estudantes negros. No que se reportava ao ingresso,<br />

havia os que apontavam para uma maior reprovação e evasão dos<br />

estudantes ingressos pelo novo sistema; segundo esses argumentos,<br />

haveria uma queda na qualidade de ensino.<br />

O discurso sobre o mérito passou a ser cada vez mais<br />

divulgado e veiculado, principalmente <strong>nas</strong> universidades mais<br />

tradicionais e de maior produção na pesquisa científica. E<br />

outros chegaram a afirmar que haveria a institucionalização<br />

do racismo. Estes discursos não surpreendem. O ambiente<br />

universitário tem sido, secularmente, lócus de reprodução <strong>das</strong><br />

elites brasileiras, o que implica dizer espaço de reprodução de<br />

prestígio e manutenção de poder.<br />

Um segundo aspecto é que a maioria <strong>das</strong> instituições carecia de<br />

tradição em pesquisa sobre relações raciais, ou mesmo sobre essas<br />

desigualdades. É recente – últimos nove anos - o crescimento dos<br />

núcleos de estudos afro-brasileiros <strong>nas</strong> instituições universitárias<br />

e a consequente criação de espaço institucional para esse campo<br />

de pesquisa ou de intervenção acadêmica.<br />

A terceira explicação deriva do que podemos apontar<br />

como uma ação político-institucional burocratizada. Inúmeras<br />

instituições adotaram modelos de ações afirmativas que<br />

tenderam a esbarrar na estrutura burocrática secular. Dados<br />

foram solicitados aos órgãos <strong>das</strong> administrações centrais, daí<br />

encaminhados aos setores de seleção ou de acompanhamento da<br />

trajetória discente. Isso teve como resultado o exercício hercúleo<br />

de uma tarefa burocrática.<br />

Processos de solicitação levando meses para serem respondidos,<br />

engavetados ou mesmo negados. Assim, a continuidade ou o início<br />

de pesquisas, na maioria <strong>das</strong> instituições, teve um contínuo de<br />

empecilhos na circulação de informações para a produção de dados.<br />

A demarcação do controle dos dados passou a ser reverberado ou<br />

silenciado pelos setores e órgãos responsáveis pela produção e<br />

veiculação <strong>das</strong> informações. E é provável que se tratasse do exercício<br />

de poder tão comum <strong>nas</strong> instituições burocráticas estatais.

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