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Política e cotidiano - ABA

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BERENICE BENTO<br />

marco nesse processo. Suas reflexões sobre as genealogias do<br />

poder e as arqueologias do saber são articuladas nessa obra<br />

para fundamentar sua tese de que a sexualidade, o reduto que<br />

se acredita o mais individual, seria o resultado de uma<br />

articulação histórica de dispositivos poder-saber, que põe,<br />

expõe o sexo em discurso, produzindo efeitos sobre os corpos<br />

e as subjetividades dos sujeitos.<br />

Pode-se afirmar, correndo-se o risco de se ser<br />

demasiadamente panorâmico, que há dois movimentos teóricos<br />

nos anos 80: a crítica à universalidade da categoria “mulher” e,<br />

segundo, os estudos sobre a sexualidade, principalmente os<br />

de Foucault (1985), Weeks (1993) e Gayle Rubin (1989). É essa<br />

última teórica que irá propor algumas questões que apontarão<br />

para a necessidade de os estudos sobre sexualidade deslocaremse<br />

teoricamente dos estudos de gênero.<br />

Para Rubin (1989), deve-se analisar sexualidade e gênero<br />

como categorias independentes e não como ela mesma havia<br />

feito em The traffic in woman (1975), estudo sobre os sistemas de<br />

sexo-gênero que se tornou uma das grandes referências nos<br />

estudos das mulheres dos anos 70. Segundo ela, nesta obra não<br />

existia uma distinção entre desejo sexual e gênero: ambos eram<br />

tratados como modalidades do mesmo processo social<br />

subjacente; e acreditamos que, nesses marcos teóricos, a<br />

sexualidade ou a opressão sexual era observada como um<br />

epifenômeno da opressão de gênero.<br />

Quando Navarro-Swain (2000) propõe a seguinte questão<br />

– se as mulheres começaram a surgir na história a partir do feminismo,<br />

onde se escondem as lésbicas, em que nichos de obscuridade e silêncio se<br />

pode encontrá-las? (2000: 13) –, recoloca a preocupação de Rubin<br />

em termos da invisibilidade que a luta contra a opressão de<br />

gênero gerou nas mulheres lésbicas. O desafio, portanto, era<br />

construir teorias que habilitassem aqueles que divergem da<br />

norma heterossexual, apontando os processos para a construção<br />

de suas identidades sexuais a partir de referências que, por um<br />

lado, se contrapusessem a uma explicação referenciada nos<br />

corpos-sexuados e, por outro, produzissem um campo de<br />

contra-discursos ao saber gerado nos espaços confessionais das<br />

clínicas dos psicólogos, dos psicanalistas, dos psiquiatras e dos<br />

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