16.04.2013 Views

Política e cotidiano - ABA

Política e cotidiano - ABA

Política e cotidiano - ABA

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PARTO PARA CASA OU PARTO PARA HOSPITAL?<br />

O QUE PARTURIENTES E PARTEIRAS CONSIDERAM SOBRE O LUGAR DE PARIR EM MELGAÇO, PARÁ<br />

parir. A maioria das mulheres de trás certamente preferia ficar<br />

em casa ou na casa da mãe, da sogra ou da irmã (caso a sua<br />

própria casa não contasse com as condições tidas localmente<br />

como importantes – como privacidade, água, comida, luz,<br />

sossego das outras crianças, etc. – para um parto transcorrer<br />

bem). Mas nem sempre o parto acontecia em casa, e elas pediam<br />

ou eram levadas por seus maridos, pais, sogros e/ou vizinhos<br />

para a unidade de saúde (um hospital de atendimento<br />

primário), um dos dois hospitais de atenção secundária em<br />

cidades eqüidistantes de Melgaço (Breves 6 e Portel estavam a<br />

cerca de cem minutos de viagem em um barco pequeno) ou<br />

iam para Belém, onde havia vários hospitais de todos os níveis<br />

de assistência, de renome e de preço. Às vezes, o parto acontecia<br />

no translado, isto é, no trapiche, dentro da embarcação, no táxi.<br />

Por uma variedade de motivos, que serão detalhados abaixo,<br />

eram as parteiras que sugeriam que as mulheres deixassem o<br />

conforto de suas casas e, em geral, acompanhavam suas<br />

pacientes até o hospital 7 acessado. As mulheres que, à época<br />

da pesquisa, eram da frente tendiam a parir em Breves ou em<br />

Belém e dificilmente apelavam às parteiras da cidade (mesmo<br />

que já o tivessem feito no parto de seus primeiros filhos, por<br />

exemplo, quando provavelmente vivessem atrás).<br />

O parto domiciliar só passou a integrar a discussão sobre<br />

saúde reprodutiva no Brasil muito recentemente. E, nesse<br />

âmbito, percebo duas tendências. Por um lado, a principal<br />

demanda dos simpatizantes do movimento de humanização do<br />

parto, especialmente críticos à crescente biomedicalização do<br />

corpo feminino, é que parir em casa seja mantido como uma<br />

opção válida e segura às mulheres (principalmente de classe<br />

média) que assim o desejarem 8 . Por outro lado, profissionais e<br />

gestores biomédicos têm tentado, mais e mais, fazer com que<br />

6 Viana apurou o número de leitos obstétricos em Breves: dezesseis no hospital municipal<br />

e cinco no hospital privado conveniado com o SUS (s/d: 5).<br />

7 Quando me referir a “hospital” de forma geral, refiro-me à unidade de saúde em Melgaço,<br />

aos hospitais de Portel e de Breves e aos grandes e equipados hospitais da capital paraense.<br />

8 Expoentes de ONGs pró-humanização do parto, como, por exemplo, a Rede pela<br />

Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna), Associação Nacional de Doulas (ANDO),<br />

Associação Amigas do Parto, Grupo de Mães Amigas do Peito, Parto do Princípio –<br />

Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, têm debatido e publicado razões para a garantia<br />

dessa opção.<br />

247

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!