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Política e cotidiano - ABA

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DESLIGANDO O GRAVADOR: RAÇA, PRESTÍGIO E RELAÇÃO CENTRO/PERIFERIA NAS CONSTRUÇÕES DE<br />

HIERARQUIAS ENTRE DRAG QUEENS<br />

estereótipos comuns à nossa sociedade em relação ao gênero,<br />

englobando uma ambigüidade em sua performance, expressada<br />

por um corporalidade que revela performaticamente uma<br />

relação dinâmica, constante e eventualmente contrastante.<br />

Nesse sentido, vale dizer ainda que<br />

O modelo da masculinidade é (...) internamente<br />

hierarquizante, incluindo por isso o espectro da<br />

feminilidade nas disputas pela masculinidade. Na<br />

competição, feminiza-se os outros, na solidariedade<br />

vangloria-se a sua masculinidade. A homossexualidade é<br />

eivada de sentidos estigmatizadores através de um deslize<br />

semântico de várias categorias homólogas: feminilidade,<br />

passividade, submissão, penetração das fronteiras do<br />

corpo (VALE DE ALMEIDA, 1996: 177-178).<br />

É na tensão que se conforma entre o estar masculino ou o<br />

estar feminino que a drag tem efetiva possibilidade de<br />

existência. É também nesta tensão que se gera a ambigüidade,<br />

que pode ser convertida em estigma em alguns momentos ou<br />

ser valorizada em outros. Além do cross-dressing e da<br />

homossexualidade – duas características potencialmente<br />

estigmatizadoras que as drags envolvidas na história<br />

compartilham –, há outros elementos distintivos importantes<br />

que lhes determina lugares sociais diferenciados. Parece-me que<br />

alguns deles podem ser observados na acusação de roubo que<br />

ouvi em meu trabalho de campo.<br />

O que é um roubo na ordem das coisas?<br />

Quando se pensa sobre o que significa roubar dentro da<br />

lógica social ocidental, sabe-se que, do ponto de vista moral,<br />

ele é condenado, assim como do criminal, embora isso não o<br />

impeça de acontecer. Como disse anteriormente, uma das drags<br />

que me relatou a história contou, também, que o roubo no<br />

camarim é prática comum. Enquanto prática, o roubo pode até<br />

acontecer comumente. Contudo, há uma diferença entre roubar<br />

e ser flagrado roubando, assim como entre ter roubado e ser<br />

acusado de roubo.<br />

Dentre as drags, como em qualquer grupo social, há regras<br />

morais que são mais ou menos aceitas e cumpridas por todos<br />

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