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Política e cotidiano - ABA

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QUANDO O GÊNERO SE DESLOCA DA SEXUALIDADE: HOMOSSEXUALIDADE ENTRE TRANSEXUAIS<br />

descontextualizadas do “contexto natural” dos sexos,<br />

principalmente as que a autora considera enquanto<br />

“performatividades queer” (BUTLER, 1999; 1998; 2002), que<br />

possibilitam a emergência de práticas que interrompam a<br />

reprodução das normas de gênero.<br />

A sociedade tenta materializar nos corpos as verdades para<br />

os gêneros através das reiterações nas instituições sociais (a<br />

família, a igreja, a escola, as ciências). A necessidade permanente<br />

do sistema em afirmar e reafirmar, por exemplo, que mulheres<br />

e homens são diferentes por sua natureza indica que o sucesso<br />

e a concretização desses ideais não ocorrem como se deseja, o<br />

que nos leva a pensar que o sistema não é um todo coerente e<br />

que, conforme apontou Butler (1999), são as possibilidades de<br />

rematerialização, abertas pelas reiterações, que podem<br />

potencialmente gerar instabilidades, fazendo com que o poder<br />

da lei regulatória se volte contra ela mesma, gerando<br />

rearticulações que apontem os limites da eficácia dessa mesma<br />

lei regulatória.<br />

As reiterações do sistema em afirmar a determinação da<br />

natureza sobre os gêneros revelam que o gênero não é uma<br />

identidade estável; é uma identidade debilmente constituída<br />

no tempo; uma identidade instituída por uma repetição<br />

estilizada de atos. Para Butler, o gênero não é uma essência<br />

interna. Essa suposta “essência interna” seria produzida<br />

mediante um conjunto de atos postulados por meio da<br />

estilização dos corpos. Dessa forma, o que se supõe como uma<br />

característica natural dos corpos é algo que se antecipa e que se<br />

produz mediante certos gestos corporais naturalizados.<br />

Ao formular “gênero” como uma repetição estilizada de<br />

atos, Butler abriu espaço para a inclusão de experiências de<br />

gênero que estão além de um referente biológico. Os atos<br />

generificados são, então, interpretados como citações de uma<br />

suposta origem. Agir de acordo com uma/um mulher/homem<br />

é pôr em funcionamento um conjunto de verdades que se<br />

acredita estariam fundamentadas na natureza. No entanto,<br />

quando se age e se deseja reproduzir a/o mulher/homem “de<br />

verdade”, desejando que cada ato seja reconhecido como aquele<br />

que nos posiciona legitimamente na ordem de gênero, nem<br />

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