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Política e cotidiano - ABA

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“O SENHOR ME USA TANTO”:<br />

EXPERIÊNCIA RELIGIOSA E A CONSTRUÇÃO DO CORPO FEMININO NO PENTECOSTALISMO<br />

Cena 3:<br />

É anunciado o momento da revelação. Todos devem concentrarse<br />

para permitir que Deus fale através do ministro. A revelação<br />

é um dom, e aquele que é seu portador se faz emissário da vontade<br />

de Deus de conceder uma graça a algum dos presentes. A graça<br />

recai sobre um aspecto da vida do fiel que é subitamente<br />

descortinado ou revelado durante o culto. Pode ser um problema<br />

que está afligindo a pessoa, como também pode ser uma falta que<br />

foi cometida, e são muitas as possibilidades de falta ou de desvio<br />

à moral na IPDA. Ao receber uma revelação, o pastor usualmente<br />

começa dizendo “Tem alguém aqui que...” e descreve um certo<br />

comportamento, estado ou desenrolar futuro de eventos; em<br />

seguida, pede que a pessoa a quem a revelação é destinada se<br />

apresente para receber a graça (que, no caso de ações faltosas, é o<br />

perdão divino). Nesta noite, duas das revelações tratavam de<br />

desvios “típicos” do comportamento feminino. A primeira<br />

revelava uma mulher que costumava bisbilhotar o bolso do marido<br />

em busca de dinheiro para compras: embora fosse reconhecido o<br />

motivo justo do ato, tratava-se, ainda assim, de uma falha moral. A<br />

segunda referia-se a uma “irmã” que cortara o cabelo – prática que<br />

não é permitida às mulheres da igreja. Nos dois casos, houve uma<br />

certa relutância por parte das agraciadas em se revelar ao público,<br />

e o pastor teve de insistir no fato de que o ocultamento equivalia a<br />

uma recusa do perdão que Deus estava a oferecer. A mulher que<br />

furtava do marido veio à frente, ajoelhou-se ao som dos louvores da<br />

platéia, para ser abençoada; ninguém apareceu para assumir que<br />

cortara os cabelos. Outra revelação anunciava que a casa com que<br />

uma irmã tanto sonhara, em breve, seria sua.<br />

Essas três cenas descrevem aspectos diferentes da prática<br />

pentecostal e da relação das mulheres com esta prática. A<br />

primeira trata de eventos que antecedem ao culto propriamente<br />

dito ou que marcam seu início; reúne práticas de importância<br />

aparentemente secundária, cuja função parece ser apenas a de<br />

preparar o terreno para as experiências que irão desenrolar-se<br />

mais adiante. Algumas destas estão descritas nas cenas dois e<br />

três e dizem respeito à ação direta do Espírito Santo sobre os<br />

fiéis – definidora do ethos pentecostal. Mas, se quando<br />

consideramos seu significado do ponto de vista religioso a cena<br />

um contrasta com as duas outras, sob outra perspectiva aparece<br />

solidária à cena três – ambas tratando de instâncias de<br />

disciplinamento ao interior da igreja. De fato, embora o batismo<br />

de fogo e, mais particularmente, o dom da glossolalia<br />

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