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Política e cotidiano - ABA

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CENÁRIOS MARCADOS PELA “COR”: A “INCLUSÃO” DO “NEGRO” NA PUBLICIDADE BRASILEIRA<br />

palavras de Butler, “seres abjetos que não parecem<br />

apropriadamente generizados” (BUTLER, 2002:26). A tensão,<br />

apontada por Astuti (1998), entre o que é a natureza humana –<br />

processual e transformável – e o que é categoricamente fixo e<br />

imutável é eliminada, reificando imagens hegemônicas de<br />

gênero, na medida em que utiliza, de forma negativa, algo que<br />

não pode ser reconhecido no modelo, algo que não separa<br />

nitidamente feminilidade de masculinidade. Ao mesmo tempo,<br />

o fenótipo híbrido acompanha as ambigüidades presentes na<br />

formulação dessa peça, mas não há uma associação explícita<br />

entre o afastamento dos modelos normativos e a “cor”, evitando<br />

possíveis, prováveis, reações. O “estranhamento” está centrado<br />

na alusão de práticas sexuais que não apresentam coerência<br />

entre gênero e sexualidade; deslocada da “cor”, a<br />

“anormalidade”, aqui, é situada em práticas sexuais não<br />

reconhecidas no modelo, ressaltadas pela dubiedade de um<br />

corpo não definido, “não inteligível”, nos termos de Butler.<br />

As certezas são exaltadas no modelo ideal de mulher, cuja<br />

beleza é definida nos olhos claros e, particularmente, na<br />

sensualidade da boca carnuda. O ideal de homem, apesar de<br />

não explicitado, pode ser inferido pela negativa, a exemplo da<br />

pesquisa de Miguel Vale de Almeida (1995: 127), em Pardais:<br />

“ser homem é não ser [sequer parecer] mulher”.<br />

Mesmo em se tratando de uma imagem apresentada como<br />

ruim, sua utilização chama a atenção do consumidor, e seria<br />

interessante pensar o fascínio que a própria indefinição exerce<br />

na atual cena brasileira. Ao estar imersa no constante jogo de<br />

semelhança/diferença, a publicidade, de um lado, necessita<br />

colocar no mercado algo que seja aceito, mas que, ao mesmo<br />

tempo, se diferencie daquilo que já está em circulação, sem, é<br />

claro, ferir suscetibilidades dos clientes; de outro, a indefinição<br />

permite muitas leituras, o que possibilita ampliar o leque de<br />

consumidores. Dessa forma, os limites entre convencional e não<br />

convencional ficam estreitos, pois é preciso ir além do<br />

convencional para ser diferente.<br />

No entanto, algumas imagens movimentam o imaginário<br />

dos leitores, e, ainda que contestadas, a discussão gerada traz à<br />

cena o movimento da possibilidade de vivências não<br />

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