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Política e cotidiano - ABA

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SORAYA FLEISCHER<br />

optaria por uma parteira porque teria algum recurso e<br />

autonomia e, sobretudo, más lembranças do sufoco que<br />

enfrentara sozinha, com enfermeiros ou mais provavelmente<br />

com auxiliares na Unidade. Além disso, tendiam a procurar a<br />

Unidade também moças que, embora não fossem primíparas,<br />

eram recém-chegadas por terem-se casado com rapazes de<br />

Melgaço e só contarem com o apoio de afins na cidade (como<br />

foi o caso de Beatriz, por exemplo). Esse ciclo reprodutivo local,<br />

que envolve mulheres jovens, parentes e afins, maridos e<br />

padrastos, também ajuda a entender quando a casa e o hospital<br />

se tornam alternativas para o parto.<br />

3. Considerações finais<br />

Há uma extensa discussão na literatura biomédica sobre<br />

o papel das parteiras. Em todo o mundo, médicos,<br />

epidemiologistas e gestores de saúde avaliam se o trabalho das<br />

parteiras ajuda a diminuir a mortalidade materna e neonatal.<br />

Partem de concepções de corpo e de adoecimento e de<br />

indicadores e de comparações biomédicas. Alguns desses<br />

estudos são bastante pessimistas; outros sugerem ações<br />

provisórias que podem atenuar os problemas (e.g.<br />

VELIMIROVIC & VELIMIROVIC, 1981). Em geral, dizem que<br />

há muitos lugares (especialmente no Terceiro Mundo) que não<br />

contam com o serviço obstétrico “ideal” e que, enquanto esta<br />

hospitalização não é democratizada universalmente, será<br />

preciso contar com a mão-de-obra não especializada das<br />

parteiras ditas “leigas”. É preciso também “capacitá-las” para<br />

que possam, ao menor sinal de risco (biomédico, obviamente),<br />

encaminhar as parturientes para o sistema de saúde oficial mais<br />

próximo.<br />

Há, claro, uma grande distância entre os objetivos dos<br />

cursos de capacitação, o aumento concreto de partos<br />

hospitalares e a diminuição real dos números de mortes<br />

(BERRY, 2006). Gostaria de tecer três comentários sobre esse<br />

quadro. Primeiro que, para as parteiras e mulheres de Melgaço<br />

(como em muitos outros lugares do mundo), o parto e a<br />

reprodução não são a priori eventos patológicos. Parir em casa<br />

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