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Política e cotidiano - ABA

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IARA BELELI<br />

por este público-alvo. No entanto, essa aparente desorganização<br />

do senso comum, que passa também pela diversidade de<br />

nominações, traz à cena um hibridismo que se aproxima dos<br />

modelos hegemônicos, reativando uma organização que não<br />

desloca a “branquitude” do lugar de referência.<br />

Questões e tensões<br />

Pelos motivos que se queira nomear, o cenário da<br />

publicidade apresenta modificações visuais. Impactar o<br />

expectador/leitor com imagens, até pouco tempo, incomuns,<br />

faz parte da lógica de driblar o convencional para ser diferente,<br />

ancorada na tese da ampliação de mercado. No entanto,<br />

retomando minha questão inicial, a abertura de espaços para<br />

corpos marcados pela “cor” acentua as marcas da diferença. A<br />

visibilidade dos corpos escuros aumenta conforme a “cor” vai<br />

sendo nuançada. Nesse sentido, o aparente deslocamento de<br />

noções que oferecem à “cor branca” o status de referente nada<br />

mais é do que uma regulação – qualitativa e quantitativa – dessa<br />

visibilidade. A utilização de imagens de “pretos, pardos,<br />

mulatos, crioulos, morenos” agrega alguns quesitos ao padrão<br />

estético hegemônico há tempos promovido pela propaganda,<br />

mas não o modifica. Paradoxalmente, o hibridismo, na sua<br />

ambivalência, desloca a discussão da herança biológica para<br />

como os corpos e cores se movimentam na (e movimentam a)<br />

sociedade – uma armadilha para o meio publicitário, que<br />

necessita de definições.<br />

Mesmo com a articulação de categorias, a ascensão de<br />

classe não significa que a “cor” desapareça como um fator de<br />

distinção social. O deslocamento dos personagens dos<br />

“mocambos” para os “sobrados”, evocando um imaginário de<br />

“igualdade”, também requer uma regulação da aparência, senão<br />

na “cor”, em algo que se aproxime da “branquitude”, exceto<br />

quando o processo de identificação – consumidor-marca/logo<br />

– está centrado em personagens que se destacam nas variadas<br />

cenas culturais, e não na “cor”.<br />

Ao apresentar “cores” nuançadas, narizes afilados, cabelos<br />

recorridos, encaracolados ou lisos, menos que descrever a<br />

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