Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Evanildo Bechara<br />
só ao tempo, é que compete produzi-lo. As línguas românicas foram dialetos<br />
do latim, um <strong>dos</strong> dialetos por sua vez do ramo itálico, dialeto ele próprio<br />
<strong>da</strong> língua <strong>dos</strong> árias; não po<strong>de</strong> haver, portanto, dúvi<strong>da</strong> mínima, para<br />
quem apren<strong>de</strong>u na aula <strong>de</strong> lógica a induzir, que o idioma brasileiro, <strong>de</strong> dialeto<br />
português que ain<strong>da</strong> é, chegará a ser um dia a língua própria do Brasil.<br />
Que po<strong>de</strong>rão, entretanto, fazer os mestres neste momento histórico <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> do português na nossa terra?<br />
Ir legitimando pouco a pouco, com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s nossas gramáticas,<br />
as diferenciações que se vão operando entre nós, <strong>da</strong>s quais a mais sensível é a<br />
<strong>da</strong>s formas casuais <strong>dos</strong> pronomes pessoais regi<strong>dos</strong> por verbos <strong>de</strong> significação<br />
transitiva e que nem sempre coinci<strong>de</strong>m lá e cá; além <strong>da</strong> fatali<strong>da</strong><strong>de</strong> fonética<br />
que origina necessariamente a <strong>de</strong>slocação <strong>dos</strong> pronomes átonos na frase,<br />
o que tanto horripila o ouvido afeiçoado à modulação <strong>de</strong> além-mar.<br />
Consentiremos que os nossos alunos nos venham dizer que assistiram<br />
festas, respon<strong>de</strong>ram cartas, obe<strong>de</strong>ceram or<strong>de</strong>ns, perdoaram colegas e que, em compensação,<br />
assegurem aos mestres que lhes estimam, que se lhes não visitam com<br />
freqüência, é que receiam incomo<strong>da</strong>r-lhes e que se lhes não sau<strong>da</strong>ram na rua,<br />
foi que lhes não viram?<br />
Por mim, falece-me autori<strong>da</strong><strong>de</strong> para sancionar tais regências, nem acredito<br />
que qualquer <strong>dos</strong> meus colegas se abalance a tanto. E, contudo, o que nenhum<br />
<strong>de</strong> nós teria coragem <strong>de</strong> fazer, hão <strong>de</strong> consegui-lo os anos que se vão<br />
dobando lentamente. 11<br />
Em outro tom é o seguinte comentário, <strong>de</strong> 1919:<br />
A língua não é um ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregar <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os<br />
outros aspectos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> social a que está intimamente liga<strong>da</strong>, para se<br />
consi<strong>de</strong>rar em abstrato; é uma resultante necessária <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> coletiva nas suas<br />
infinitas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Se conseguirmos, portanto, assimilar as virtu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s<br />
11 Id., ibid., pp. 178-179.<br />
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