Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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João <strong>de</strong> Scantimburgo<br />
tento. Iludindo-se a si próprio, preferiu a via do jornalismo, organizando um veículo,<br />
a que <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> Os Ferrões – um panfleto, com o qual esperava <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r<br />
o que fosse acessível aos leitores <strong>de</strong> jornais, principalmente no estilo com que<br />
procurou se fazer notar numa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> proliferavam os panfletos, os jornais<br />
<strong>de</strong> quatro páginas sobre <strong>de</strong>bates políticos. Lembra Mário <strong>de</strong> Alencar, com razão,<br />
em seu discurso <strong>de</strong> ingresso nesta Casa, que José do Patrocínio procurou imitar<br />
Eça <strong>de</strong> Queirós e Ramalho Ortigão, que lançaram em Portugal As Farpas, imitação,<br />
em terras lusas, como os Ferrões no Brasil, <strong>da</strong>s Les Guêpes, <strong>de</strong> Alphonse Kar,<br />
em Paris. Evi<strong>de</strong>ntemente, haveria enormes diferenças entre uma e outra publicação,<br />
mas, o jovem negro, no seu ímpeto <strong>de</strong> conquistar um lugar <strong>de</strong> relevo no<br />
meio jornalístico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, fez <strong>de</strong> seu jornal um baluarte <strong>de</strong> criticas políticas,<br />
sociais e econômicas, em suma, o que interessasse ao público. Patrocínio<br />
foi mesmo aguerrido, tantas vezes feroz nas suas críticas, mas Os Ferrões não alcançaram<br />
o prestígio com o qual ele sonhara – pois fora um sonho o seu ímpeto<br />
<strong>de</strong> jornalista na linha <strong>de</strong> Les Guêpes ou <strong>de</strong> As Farpas – e o jornalzinho, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>z números, sem progresso <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> que o sustentasse no Rio <strong>de</strong> Janeiro e um<br />
pouco em São Paulo, acabou suspen<strong>de</strong>ndo a tiragem, morrendo <strong>de</strong> inanição,<br />
com <strong>de</strong>cepção amarga do fun<strong>da</strong>dor sobre a sua ambição<br />
O jornal serviu, porém, para chamar a atenção <strong>dos</strong> diretores <strong>de</strong> jornais com<br />
tiragem assegura<strong>da</strong> e freqüente no Rio <strong>de</strong> Janeiro e assinantes em São Paulo, e<br />
Patrocínio foi contratado pela Gazeta <strong>de</strong> Notícias, um <strong>dos</strong> gran<strong>de</strong>s órgãos <strong>de</strong> imprensa<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no qual pontificava Ferreira <strong>de</strong> Araújo, até hoje um<br />
<strong>dos</strong> maiores jornalistas do Brasil, especialmente nos comentários editoriais sobre<br />
a política e suas excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, numa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> fron<strong>de</strong>use e politiza<strong>da</strong> como<br />
sempre foi o Rio <strong>de</strong> Janeiro, ao menos até a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> capital para Brasília,<br />
quando Juscelino Kubitschek quis manter a palavra <strong>da</strong><strong>da</strong> aos assistentes <strong>de</strong> um<br />
comício <strong>de</strong> sua campanha <strong>de</strong> candi<strong>da</strong>to à Presidência <strong>da</strong> República.<br />
José do Patrocínio foi, em tudo, um justo. Daí, como vem num salmo, ter<br />
florescido como a palmeira, isto é, retamente, entre os seus contemporâneos.<br />
Negro, num país que fizera <strong>da</strong> escravidão a base <strong>da</strong> força econômica <strong>da</strong> qual<br />
necessitava nas lavouras <strong>de</strong> café, no ouro e outros produtos, teria que ser alvo<br />
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