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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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João <strong>de</strong> Scantimburgo<br />

fa<strong>da</strong><strong>da</strong> a viver abaixo do nível <strong>da</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, ain<strong>da</strong> que seu caráter o tenha<br />

prestigiado. No discurso <strong>de</strong> ingresso nesta Casa, disse Mário <strong>de</strong> Alencar,<br />

seu sucessor na Ca<strong>de</strong>ira 21, que “não seguiria a regra usa<strong>da</strong> na biografia <strong>dos</strong><br />

homens notáveis, <strong>de</strong> procurar nos antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> família e nos atos <strong>da</strong> infância<br />

a razão <strong>dos</strong> sinais e <strong>dos</strong> vestígios do <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>les”.<br />

A biografia <strong>de</strong> José do Patrocínio, se não fosse romancea<strong>da</strong>, com abundância<br />

<strong>de</strong> imaginação, como a <strong>de</strong> um Victor Hugo ou <strong>de</strong> um Sthen<strong>da</strong>l, na<strong>da</strong> teria<br />

que oferecesse ao curioso em sua história familiar e individual. Havia trabalhado<br />

numa quitan<strong>da</strong> do interior e na casa paroquial <strong>de</strong> uma igreja <strong>de</strong> província,<br />

<strong>da</strong> qual o vigário era seu pai. Daí <strong>de</strong>cidiu vir para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, a vitrine carioca<br />

<strong>de</strong> seu tempo, quando o Rio <strong>de</strong> Janeiro projetava inteligências brilhantes<br />

ou <strong>de</strong>sfazia reputações duvi<strong>dos</strong>as.<br />

Segundo Mário <strong>de</strong> Alencar, <strong>de</strong> quem me valho, Patrocínio <strong>de</strong>ixou Campos,<br />

on<strong>de</strong> vivia a vi<strong>da</strong> pachorrenta <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do interior, ain<strong>da</strong> hoje semelhante,<br />

sob muitos aspectos, ao seu tempo, e arranjou um emprego como aprendiz <strong>de</strong><br />

farmácia na Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia, para ganhar a ínfima quantia <strong>de</strong> dois<br />

mil réis, a moe<strong>da</strong> <strong>da</strong> época. Tinha casa e comi<strong>da</strong>, mas esse dinheiro não lhe vinha<br />

<strong>da</strong> instituição, porém <strong>dos</strong> companheiros aos quais substituía em domingos<br />

e dias feria<strong>dos</strong>. Era com o trabalho, enquanto os companheiros folgavam,<br />

que podia ter abrigo certo e a mesa na qual se alimentava. A essa quantia miserável,<br />

acrescentaria <strong>de</strong>zesseis mil réis recebi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> seu pai, vigário <strong>de</strong> Campos.<br />

Tinha portanto uma escora na qual se ampararia enquanto durasse a munificência<br />

obriga<strong>da</strong> pela consciência do vigário <strong>de</strong> Campos e a aju<strong>da</strong> <strong>dos</strong> companheiros<br />

<strong>da</strong> farmácia <strong>da</strong> Misericórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Homem sem passado <strong>de</strong> legen<strong>da</strong>, <strong>de</strong>sses fulgurantes nomes que enchem as<br />

páginas <strong>da</strong> história, e ou são heróis, ou santos, ou poetas, ou escritores, ou artistas<br />

em vária arte, que <strong>de</strong>ixam nome à posteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, para serem julga<strong>dos</strong>,<br />

como o Aleijadinho em Minas Gerais, para citar o nome mais dramático e<br />

mais genial <strong>de</strong> quantos perambulam pelas páginas <strong>da</strong> nossa história.<br />

Para estu<strong>da</strong>r, Patrocínio procurou o Externato Aquino, e lá obteve o que<br />

em nossos dias se chama bolsa <strong>de</strong> estudo. Começou a estu<strong>da</strong>r. Aguilhoado pela<br />

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