Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Patrocínio: Um jornalista na Abolição<br />
fora aboli<strong>da</strong> no Ceará. E ali mesmo faz um apelo para que Victor Hugo apóie<br />
os abolicionistas brasileiros, recebendo <strong>de</strong>le, 48 horas <strong>de</strong>pois e por escrito, a<br />
seguinte mensagem:<br />
“Uma província brasileira acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar extinta a escravatura, <strong>de</strong>sfechando<br />
nela um golpe <strong>de</strong>cisivo. Esta é uma gran<strong>de</strong> notícia. Porque, antes do<br />
fim <strong>de</strong>ste século, a escravatura terá <strong>de</strong>saparecido sobre a face <strong>da</strong> Terra.”<br />
No auge <strong>da</strong> populari<strong>da</strong><strong>de</strong>, Patrocínio resolve visitar Campos. E aí é sau<strong>da</strong>do<br />
por um combativo orador local, muito popular e <strong>de</strong> muito sucesso, chamado<br />
Carlos <strong>de</strong> Lacer<strong>da</strong> – (que pelo nome não se perca) – um homônimo e antecessor<br />
do futuro lutador e lí<strong>de</strong>r Deputado <strong>da</strong> Ban<strong>da</strong> <strong>de</strong> Música u<strong>de</strong>nista, companheiro<br />
aqui, do nosso estimado Acadêmico Oscar Dias Corrêa.<br />
Aí em Campos, Patrocínio experimenta uma <strong>da</strong>s maiores emoções <strong>de</strong> sua<br />
vi<strong>da</strong>. Tinha 32 anos e estava afastado há 17 anos <strong>dos</strong> seus conterrâneos. Durante<br />
um gran<strong>de</strong> jantar que lhe foi oferecido, o mestre-<strong>de</strong>-cerimônias chamou<br />
para presidir a mesa uma escrava <strong>de</strong> nome Justina Maria, justamente sua mãe,<br />
com a qual ele se reencontra, em meio a muitos beijos e muitas lágrimas.<br />
Justina já estava sofrendo as dores <strong>de</strong> um quisto surgido quando ain<strong>da</strong> era<br />
jovem. Trazi<strong>da</strong> pelo filho para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, interna-se na Santa Casa <strong>de</strong><br />
Misericórdia, em cuja farmácia, Patrocínio, aos 14 anos, tivera, como já vimos,<br />
o seu primeiro emprego.<br />
É então opera<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele quisto, já então transformado num perigoso tumor<br />
cancerígeno, do qual viria a falecer, cinco meses <strong>de</strong>pois. Mas, pouco antes<br />
<strong>de</strong> morrer, Justina Maria ain<strong>da</strong> tem chance <strong>de</strong> embalar nos braços o seu neto:<br />
José do Patrocínio Filho, recém-nascido, e que mais tar<strong>de</strong> seria também um teatrólogo<br />
e um razoável cronista (meio boêmio).<br />
Aquela escrava, humilha<strong>da</strong> e repudia<strong>da</strong> pelo Cônego João Carlos Monteiro,<br />
teve no seu enterro a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s homens, correligionários do seu filho:<br />
Campos Sales, Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Morais, Olavo Bilac, Coelho Neto, Rui Bar-<br />
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