Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />
Com outro julgamento, Eucli<strong>de</strong>s contesta: “Na<strong>da</strong> direi do livro malogrado,<br />
on<strong>de</strong>, entretanto, um velho tema se remoça com uma cativante originali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfecho. Consi<strong>de</strong>ro apenas que a crítica <strong>de</strong>saçaima<strong>da</strong>, que o estraçalhou até<br />
à errata final, não disse mais do que o próprio romancista, no prefácio.”<br />
Raimundo Corrêa viu injustiça, por vezes, na severi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>dos</strong> críticos, a qual<br />
se acrescentava à “diatribe malévola <strong>dos</strong> <strong>de</strong>safetos”.<br />
Escreve Machado <strong>de</strong> Assis:<br />
Flor <strong>de</strong> sangue po<strong>de</strong> dizer-se que é o sucesso do dia. Ninguém ignora que<br />
Valentim Magalhães é <strong>dos</strong> mais ativos espíritos <strong>da</strong> sua geração. Tem sido<br />
jornalista, cronista, contista, crítico, poeta, e, quando preciso, orador. Há<br />
vinte anos que escreve, dispersando-se por vários gêneros, com igual ardor e<br />
curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quem sabe? Naturalmente nem tudo o que escreveu terá o<br />
mesmo valor.<br />
Tudo é que as obras sejam feitas com o fôlego próprio e <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, e<br />
com materiais que resistam. Que Valentim Magalhães po<strong>de</strong> compor<br />
obras <strong>de</strong> maior fôlego, é certo. Na Flor <strong>de</strong> sangue o que o prejudicou foi<br />
querer fazer longo e <strong>de</strong>pressa. A ação, aliás vulgar, não <strong>da</strong>va para tanto;<br />
mal chegaria à meta<strong>de</strong>. Há muita coisa parasita, muita repeti<strong>da</strong>, e muita<br />
que não valia a pena trazer <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ao livro. Quanto à pressa, a que o autor<br />
nobremente atribui os <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> estilo e <strong>de</strong> linguagem, é causa ain<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> outras imperfeições.<br />
Não insisto; aí fica o bastante para mostrar o apreço em que tenho o talento<br />
<strong>de</strong> Valentim Magalhães, dizendo-lhe alguma coisa do que me parece<br />
bom e menos bom na Flor <strong>de</strong> sangue. Que há no livro certo movimento, é fora<br />
<strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>; e esta quali<strong>da</strong><strong>de</strong> em romancista vale muito. Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente os<br />
<strong>de</strong>feitos principais <strong>de</strong>ste romance são <strong>dos</strong> que a vonta<strong>de</strong> do autor po<strong>de</strong> corrigir<br />
nas outras obras que nos <strong>de</strong>r, e que lhe peço sejam feitas sem nenhuma<br />
idéia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fôlego.<br />
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