Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
es, em Alagoas; pelo Quilombo Arraial <strong>dos</strong> Crioulos, em Minas; pelo esplendor<br />
<strong>de</strong> Chica <strong>da</strong> Silva, no Arraial do Tijuco; pela resistência <strong>de</strong> Antônio Conselheiro<br />
na epopéia <strong>de</strong> Canu<strong>dos</strong>, na Bahia; e pela tradição <strong>de</strong> “Negrinho do<br />
Pastoreio”, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
O abolicionismo passou então por duas fases bem distintas: uma até 1879,<br />
romântica, i<strong>de</strong>alista, teórica, reflexiva; e outra, até 1888, bem mais prática, objetiva,<br />
com os pés no chão.<br />
Fun<strong>da</strong>-se aí a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> contra a Escravidão, com duas alas bastante<br />
<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s: A primeira: aristocrática, forma<strong>da</strong> por Nabuco, no Parlamento,<br />
com apoio <strong>de</strong> Joaquim Serra, André Rebouças, Coelho Neto, Luís Murat,<br />
Raul Pompéia e outros intelectuais cultos e refina<strong>dos</strong>, meio filósofos e teóricos.<br />
A segun<strong>da</strong>: popular, constituí<strong>da</strong> por Patrocínio, na rua e no meio do povo,<br />
com Lopes Trovão, Luís Gama, Paula Ney, Par<strong>da</strong>l Mallet, Ferreira <strong>de</strong> Menezes,<br />
e outros lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> ação prática e extrema<strong>da</strong>, tribunos populares, que se alimentavam<br />
na reação <strong>dos</strong> comícios.<br />
Uma oratória diferente<br />
Patrocínio: Um jornalista na Abolição<br />
Ao revés <strong>de</strong> Nabuco, a oratória <strong>de</strong> Patrocínio na<strong>da</strong> tinha <strong>de</strong> elegante. Pelo<br />
contrário: não seguia os mo<strong>de</strong>los clássicos, não fora educa<strong>da</strong> pela Retórica, era<br />
<strong>de</strong>sengonça<strong>da</strong> e feia, bamboleante, <strong>de</strong> gestos <strong>de</strong>scoor<strong>de</strong>na<strong>dos</strong>. Mas, compensava<br />
esse <strong>de</strong>sacerto com uma emoção que emanava <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quele negro baixo,<br />
grosso, rechonchudo, quase calvo – <strong>de</strong> barba espessa e cerra<strong>da</strong>, no figurino<br />
<strong>de</strong> José <strong>de</strong> Alencar e <strong>de</strong> Alcindo Guanabara, uma barba pre<strong>de</strong>cessora <strong>da</strong> <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>l<br />
Castro e do nosso Lula – com um turbilhão <strong>de</strong> frases curtas e contun<strong>de</strong>ntes,<br />
que falavam <strong>de</strong> perto aos corações e às mentes <strong>de</strong> um público vibrátil a<br />
ca<strong>da</strong> frase sua.<br />
Dir-se-ia uma centelha que se acendia e que inflamava. As palavras jorravam<br />
como se estivessem num turbilhão, em catadupas, <strong>de</strong> uma cachoeira, com uma esplêndi<strong>da</strong><br />
facul<strong>da</strong><strong>de</strong> criadora, imagens improvisa<strong>da</strong>s e comparações imprevistas.<br />
133