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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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Minhas Senhoras e meus Senhores.<br />

Não quiseram os <strong>de</strong>sígnios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que Patrocínio tivesse uma origem feliz.<br />

Ele foi extraído <strong>de</strong> uma barriga humil<strong>de</strong> e escrava, <strong>da</strong>ndo-lhe à pele uma cor escura,<br />

cercando-lhe a infância <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>sgraças, com a privação <strong>da</strong> paterni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

legítima e os sofrimentos do seu povo escravizado.<br />

Quiseram que no seu sangue e nos seus nervos se acumulassem as revoltas<br />

<strong>da</strong> gente martiriza<strong>da</strong>, contra a mal<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>dos</strong> opressores, to<strong>da</strong> a longa e trágica<br />

odisséia do sacrifício africano.<br />

O Acadêmico Olavo Bilac escreveu:<br />

Patrocínio: Um jornalista na Abolição<br />

“A raça negra viu aparecer o profeta esperado, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um furacão <strong>de</strong> trovões<br />

e <strong>de</strong> flores, acen<strong>de</strong>ndo cóleras, cicatrizando feri<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>spe<strong>da</strong>çando grilhões, fulminando<br />

orgulhos e ateando a fogueira em que o Brasil haveria <strong>de</strong> purificar-se.<br />

Ao chegar a hora <strong>da</strong> erupção <strong>da</strong>quela cólera vingadora, os brasileiros estremeceram,<br />

abala<strong>dos</strong> e toma<strong>dos</strong> <strong>de</strong> uma comoção entonteci<strong>da</strong>. Nunca houvera,<br />

até então, no Brasil, uma voz que soasse tão alto e que ferisse tão fundo.”<br />

Inconti<strong>da</strong> força <strong>da</strong> emoção<br />

Senhores Acadêmicos.<br />

Informa o Osvaldo Orico que, a Patrocínio, “pouco importavam amiza<strong>de</strong>s,<br />

estimas, conselhos e advertências. Na hora do combate, ele se transformava<br />

numa visão animalesca do combatente. E só retornava a si mesmo, quando trazia,<br />

<strong>da</strong> arena áspera e crua, o troféu <strong>da</strong> vitória preso nos <strong>de</strong>ntes”.<br />

De acordo com Raymundo Magalhães Jr., Patrocínio “era uma inconti<strong>da</strong><br />

força emotiva, singularizando um <strong>de</strong>stino. Cessa<strong>da</strong> a luta, voltava a ser o homem<br />

bom e hospitaleiro, simples e cordial, em cujo espírito brincavam a doçura<br />

<strong>de</strong> uma criança e a indulgência <strong>de</strong> uma etnia afetiva. Seus braços levantavam-se<br />

em protestos e em agra<strong>de</strong>cimentos. Numa <strong>da</strong>s mãos, um raio. Na outra<br />

mão, uma rosa.”<br />

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