Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Patrocínio: Um jornalista na Abolição<br />
Patrocínio, que entrara na sala carregado nos ombros <strong>de</strong> populares, aproxima-se<br />
<strong>da</strong> Princesa, ajoelha-se, beija-lhe as mãos e proclama:<br />
– Vossa Alteza é a queri<strong>da</strong> mãe branca <strong>dos</strong> escravos e a mãe loira <strong>dos</strong> brasileiros.<br />
Não menos emocionado, o monarquista Joaquim Nabuco chega à janela do<br />
Palácio, esforça-se para discursar, mas, com a voz embarga<strong>da</strong>, consegue apenas<br />
dizer:<br />
– Está aboli<strong>da</strong> a escravidão. Não há mais escravos no Brasil.<br />
Aplausos, flores e palmas festejam suas palavras. O povo <strong>da</strong>nçava nas ruas.<br />
E a Abolição chegava finalmente ao seu feliz <strong>de</strong>senlace, como o mais belo movimento<br />
<strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a História brasileira.<br />
Aquela conquista, que nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> custara o preço <strong>de</strong> uma sangrenta<br />
guerra <strong>de</strong> cinco anos – a Guerra <strong>da</strong> Secessão – entre o Norte e o Sul, aqui no<br />
Brasil era obti<strong>da</strong> com risos e festas.<br />
As comemorações do triunfo não atraíam Patrocínio, nem o fascinavam.<br />
Não gostava <strong>da</strong>s vitórias, que costumam <strong>de</strong>cepar os adversários. Atingido o<br />
objetivo, preferia recolher-se.<br />
E, na companhia <strong>de</strong> Paula Ney, refugia-se na re<strong>da</strong>ção do seu jornal. Está<br />
cansado e exausto. Precisa <strong>da</strong>r um cochilo, mas é interrompido:<br />
– Está aí fora o Dr. Benjamim Constant, com um grupo <strong>de</strong> cegos do seu<br />
Instituto, para cumprimentá-lo.<br />
Mesmo a contragosto, Patrocínio man<strong>da</strong>-os entrar. E Benjamim Constant<br />
os apresenta:<br />
– Patrocínio, trouxe-lhe aqui os meus cegos. Eles também te querem ver. Muito<br />
<strong>de</strong> propósito, emprego o verbo: os meus cegos te querem ver.<br />
Patrocínio tenta agra<strong>de</strong>cer a homenagem. Gagueja algumas palavras, mas<br />
não as termina. Está comovido e começa a chorar.<br />
Benjamim Constant percebe o <strong>de</strong>sconforto <strong>da</strong> situação e explica:<br />
– Meus queri<strong>dos</strong> filhos cegos. Nem sempre as palavras conseguem exprimir<br />
o que sentimos. Chorando, este gran<strong>de</strong> homem e orador, que é José do Patrocínio,<br />
acaba <strong>de</strong> pronunciar o seu mais belo discurso. Não o vistes nem o ouvis-<br />
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