Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Alberto Venancio Filho<br />
Nos Escritores e escritos, afirma Eucli<strong>de</strong>s, “<strong>de</strong>sponta-lhe o antagonismo em dizeres<br />
concisos, golpeantes”: “Em literatura a forma é quase tudo. Especialmente<br />
em poesia. É preciso ter como Teodoro <strong>de</strong> Banville o sentimento <strong>da</strong>s<br />
palavras... A Forma! Eis o gran<strong>de</strong>, o milagroso talismã! Quem o possui atravessa<br />
a vi<strong>da</strong> sem conhecer impossíveis caprichos do seu gênio.”<br />
A “Forma” lá está com F maiúsculo. É o fetichismo do vocábulo. Com<br />
efeito, poucas vezes na língua portuguesa a palavra foi tão voluntariosa no<br />
violentar idéias, transfigurado-as ou emparelhando-as nas mais bizarras<br />
antíteses.<br />
O romancista<br />
Em 1897 Valentim <strong>de</strong> Magalhães publicou seu único romance: Flor <strong>de</strong> sangue.<br />
Diz no prefácio:<br />
Nesses quatro lustros <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mental, tenho feito um pouco <strong>de</strong> tudo<br />
– versos, folhetins, contos, panfletos, crítica, biografia, artigos <strong>de</strong> todo gênero,<br />
teatro, que sei eu? e tenho construído com parte <strong>de</strong>sses materiais para<br />
mais <strong>de</strong> uma dúzia <strong>de</strong> livros.<br />
A crítica tem me reconhecido, com munificência que me há penhorado,<br />
um espírito vivaz, variável, curioso; uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> in<strong>de</strong>fesa; um certo amor<br />
à língua vernácula, e <strong>da</strong>í pronunciado carinho no escrevê-la e um estilo correto<br />
e agradável; porém não tem ocultado o seu pesar por me não ver abalançar-me<br />
a isso que chamam os críticos “obra <strong>de</strong> fôlego”, ou “trabalho sério”<br />
– um poema, um romance, um livro <strong>de</strong> crítica profun<strong>da</strong>. Ora, eu <strong>de</strong>vo<br />
confessar que essa censura me calou sempre no espírito por havê-la formulado<br />
muitas vezes a mim próprio. Mas as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s inadiáveis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
material, tão pesa<strong>da</strong>s para um pai <strong>de</strong> família pobre neste terra em que <strong>da</strong>s letras<br />
ain<strong>da</strong> não se po<strong>de</strong> viver exclusivamente, impediram-me sempre <strong>de</strong> levar<br />
por diante esse projeto, cem vezes formulado e não poucas começado a exe-<br />
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