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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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Alberto Venancio Filho<br />

O velho convento conserva as suas vidraças bor<strong>da</strong><strong>da</strong>s a pedra, trabalho <strong>da</strong> revolução<br />

<strong>de</strong> 71, a negra e abun<strong>da</strong>nte varíola que lhe sarapinta as pare<strong>de</strong>s, trabalho<br />

do tempo, as suas feal<strong>da</strong><strong>de</strong>s clássicas, as suas enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sujas e legendárias<br />

[...] Continua, – isto agora quanto ao interior – a esten<strong>de</strong>r sob as arcarias <strong>de</strong>gringolantes<br />

e gafa<strong>da</strong>s o mesmo estilo <strong>de</strong> corredores: preciosos <strong>de</strong>pósitos <strong>dos</strong><br />

escarros <strong>de</strong> 20 gerações <strong>de</strong> bacharéis, que aí se acumulam – os escarros e não os<br />

bacharéis – em gloriosas máculas escuras [...] A sala <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> para o ato não se<br />

enfeita, não se apelintra, não se lava; não é varri<strong>da</strong> ao menos [...].<br />

Escapou-me observar que não há em todo o edifício <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia uma<br />

sala especial, que digo eu?... um banco, um reles banco <strong>de</strong> pinho, para receber<br />

as famílias que concorrem ao ato, enquanto o esperam. As senhoras, em<br />

gran<strong>de</strong> tenue, conservam-se <strong>de</strong> pé, gentilmente alinha<strong>da</strong>s à pare<strong>de</strong>, sendo força<strong>da</strong>s<br />

a ter suspensas pelas pontas <strong>dos</strong> <strong>de</strong><strong>dos</strong> as pomposas traînes <strong>dos</strong> vesti<strong>dos</strong><br />

ricos, a fim <strong>de</strong> não inutilizá-los, pousando-os no chão [...].<br />

Enquanto com todo o vagar, a portas fecha<strong>da</strong>s, se lavra a ata e se preparam<br />

as coisas para a cerimônia, to<strong>da</strong> essa pobre gente amarrota-se, abafa, <strong>de</strong>sespera<br />

e sua; os homens sinistramente vermelhos, abotoa<strong>dos</strong> na suas redingotes,<br />

enforca<strong>dos</strong> nos seus colarinhos novos e nas suas gravatas brancas,<br />

<strong>de</strong>ssorando mau humor e péssima poma<strong>da</strong> húngara.<br />

E assim prossegue a página terrível, com que nos curar para sempre <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s<br />

as i<strong>de</strong>alizações póstumas que se vieram acumulando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período romântico<br />

sob as “arca<strong>da</strong>s” do Largo <strong>de</strong> São Francisco; período estu<strong>da</strong>do com<br />

idênticas conclusões em meu livro Das Arca<strong>da</strong>s ao bacharelismo. “Os contos do<br />

volume são convencionais e in<strong>de</strong>cisos entre o sentimentalismo romântico e<br />

algumas ‘notações’ que se querem realistas, mas pertencentes, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

àquele ‘realismo’ do monstruoso e do grotesco em que o romantismo também<br />

se comprazia.”<br />

Notas à margem – diz Eucli<strong>de</strong>s – recor<strong>da</strong>m uma escaramuça agitadíssima, estonteadora,<br />

sem rumos, à caça do imprevisto, on<strong>de</strong> não há triunfos nem reve-<br />

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