Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Na dúvi<strong>da</strong>, que o punge e que o tortura;<br />
– E enquanto ao sol <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, rutilando,<br />
Lhe aquece e beija o crânio atordoado<br />
Vai-se-lhe abrindo aos pés a sepultura.<br />
O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />
Sá Viana, nos Esboços críticos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> São Paulo em 1879, relatou<br />
com ironia a situação do corpo discente, falando <strong>dos</strong> “estu<strong>da</strong>ntes que são to<strong>dos</strong><br />
que vão diariamente ao convento ou mesmo que lá não vão, mas pagam a<br />
matrícula à Fazen<strong>da</strong> Nacional. Classe que representa poucos, pois a ari<strong>de</strong>z e<br />
força <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> fazem recuar grupos numerosos que se limitam a adquirir<br />
conhecimento geral. Nesse grupo está Valentim Magalhães”.<br />
Consi<strong>de</strong>ra Sá Viana que, <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os ramos <strong>da</strong> literatura na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo, era a poesia que merecia o <strong>de</strong>vido cultivo e aponta dois estu<strong>da</strong>ntes<br />
que pensavam na mesma coisa, a poesia, Raimundo Correia e Valentim Magalhães.<br />
E <strong>de</strong>ste último comenta: “É moço inteligente, podia ser bom estu<strong>da</strong>nte<br />
<strong>de</strong> direito se se <strong>de</strong>dicasse com mais serie<strong>da</strong><strong>de</strong> ao estudo, mas não, é poeta.” Diz<br />
Eucli<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Cunha:<br />
Os primeiros quinze anos <strong>de</strong> Valentim Magalhães coinci<strong>de</strong>m com uma<br />
fase <strong>de</strong> profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> nossa existência política. De 1860, ao levantar-se<br />
o preamar <strong>de</strong>mocrático, simbolizado em Teófilo Otoni e rugindo<br />
na “Mentira <strong>de</strong> Bronze” <strong>de</strong> Pedro Luiz, a 1870 e 1875, quando a monarquia<br />
per<strong>de</strong>u, uma após a outra, as muletas <strong>da</strong> aristocracia territorial e <strong>da</strong><br />
Igreja – foi tão intensiva a <strong>de</strong>composição do antigo regime que o simples<br />
enfeixar as frases acerbas <strong>dos</strong> maiores chefes <strong>de</strong> seus parti<strong>dos</strong> é uma missão<br />
<strong>de</strong> Tácito, e não se compreen<strong>de</strong> que se per<strong>de</strong>sse tanto tempo para realizar-se<br />
o passeio marcial <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889.<br />
Assim, a juventu<strong>de</strong> do escritor aparelhava-se para a vi<strong>da</strong>, quando em<br />
torno à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> se alterava, apercebendo-se <strong>de</strong> novos elementos para<br />
existir; e isto precisamente no cenário mais revolto <strong>de</strong> uma tal metamorfose.<br />
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