Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Minhas Senhoras e meus Senhores.<br />
Peço-lhes agora licença para <strong>de</strong>screver aqui – com mais <strong>de</strong>talhes – um episódio<br />
a que o Acadêmico Ivan Junqueira se referiu, <strong>de</strong> passagem, na terça-feira<br />
<strong>da</strong> semana passa<strong>da</strong>.<br />
Eram 20 horas do dia 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1889. Estávamos, naquela noite, no<br />
Teatro Lucin<strong>da</strong>, aqui no Rio, quando Patrocínio se vê surpreendidoeéprovocado<br />
por outro gran<strong>de</strong> orador, Silva Jardim – que <strong>de</strong>pois morreria tragicamente<br />
na cratera do Vesúvio – e que, naquele momento, com dureza, o acusava<br />
<strong>de</strong> ser um traidor do movimento republicano, rendido aos encantos <strong>da</strong><br />
Princesa Isabel.<br />
Patrocínio estava no camarote em frente, murcho e cabisbaixo, semi<strong>de</strong>rrotado<br />
por aquela enxurra<strong>da</strong> <strong>de</strong> ataques. À certa altura, ensaiou uma resposta tími<strong>da</strong>,<br />
sem brilho e sem calor.<br />
A surpresa <strong>de</strong> um aparte<br />
Patrocínio: Um jornalista na Abolição<br />
Paula Ney, seu fraternal amigo, esgueirou-se <strong>de</strong> sua companhia e foi lá para<br />
o meio do povão, na platéia, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, escondido, <strong>de</strong>sferiu um aparte:<br />
– Cala a boca, negro sem-vergonha. És o último negro vendido e sujo.<br />
Aquela interrupção feriu Patrocínio intensamente. Sem saber <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela<br />
vinha, cuidou <strong>de</strong> respondê-la.<br />
Já agora era a fera feri<strong>da</strong>, <strong>de</strong> olhos esbugalha<strong>dos</strong>, narinas acesas, o corpo trêmulo<br />
<strong>de</strong> indignação, que se agigantava na resposta, não apenas a Silva Jardim,<br />
mas também ao <strong>de</strong>sconhecido aparteante:<br />
“Negro, sou, sim, com muito orgulho. Deus <strong>de</strong>u-me a cor <strong>de</strong> Otelo, para<br />
que eu sempre honrasse os negros, <strong>dos</strong> quais tenho a honra <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r.<br />
Sim, sou um negro <strong>de</strong> nascimento, filho <strong>de</strong> um padre com uma escrava.<br />
Na<strong>da</strong> mais sou do que uma pessoa <strong>de</strong> três pês: preto, pobre e plebeu.”<br />
E prosseguiu com tanto brilho, que saiu do Teatro carregado em triunfo.<br />
Depois, no camarim, <strong>de</strong> acordo com relato do Acadêmico Osvaldo Orico, Patrocínio<br />
reclamou:<br />
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