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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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Alberto Venancio Filho<br />

A geração <strong>de</strong> que Valentim Magalhães foi a figura mais representativa,<br />

<strong>de</strong>via ser o que foi: fecun<strong>da</strong>, inquieta, brilhantemente anárquica, tonteando<br />

no <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong> um progresso mental precipitado a <strong>de</strong>stoar <strong>de</strong> um estado<br />

emocional que não po<strong>de</strong>ria mu<strong>da</strong>r com a mesma rapi<strong>de</strong>z; e a sua vi<strong>da</strong>, a<br />

sua carreira literária vertiginosa, to<strong>da</strong> disposta a nobilíssimas tentativas reduzi<strong>da</strong>s<br />

a belíssimos preâmbulos, a nossa própria vi<strong>da</strong> literária, impaciente<br />

e doi<strong>de</strong>jante, brilhando fugazmente à superfície <strong>da</strong>s coisas, inapta às análises<br />

fecun<strong>da</strong>s pelo muito ofuscar-se com as lantejoulas <strong>da</strong>s generalizações<br />

precipita<strong>da</strong>s.<br />

Formado, volta ao Rio. Em carta a Lúcio <strong>de</strong> Mendonça diria: “No dia 15<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1882 <strong>de</strong>vo partir com a família – mulher e filho – para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Piraí que V. conhece bem; aí vou trabalhar com o meu gran<strong>de</strong>, com meu maior<br />

amigo, o tio José Alves Meira, que V. também conhece e estima, certamente.”<br />

A esta<strong>da</strong> foi curta e retornou em pouco tempo para se <strong>de</strong>sdobrar em vários<br />

empregos. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1883 mu<strong>da</strong>va <strong>de</strong> planos: “Tomei uma <strong>de</strong>cisão<br />

heróica. E aqui me tens. Mu<strong>de</strong>i-me do teu berço para o meu berço. Não é<br />

que eu lá não arranjasse a vi<strong>da</strong> às 500 maravilhas (mil seria exagero) o foro<br />

ain<strong>da</strong> ren<strong>de</strong> bastante, além disso eu trabalhava como o Meira, meu protetor e<br />

meu amigo.”<br />

E queixando-se <strong>da</strong> profissão: “Aquilo <strong>de</strong> só ver o nariz <strong>dos</strong> escrivães, as orelhas<br />

<strong>dos</strong> juízes, as unhas <strong>dos</strong> colegas, a cau<strong>da</strong> <strong>dos</strong> políticos – aquilo matava-me<br />

lentamente. Não trepi<strong>de</strong>i, abracei o Meira, disse um a<strong>de</strong>us ao teu berço e cá estou.<br />

Fiz bem? Fiz mal? Não o sei.”<br />

E falando <strong>da</strong>s novas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s: “É preciso que saibas que ganhando <strong>de</strong>z réis<br />

<strong>de</strong> mel coado, sou entretanto um <strong>dos</strong> homens apensiona<strong>dos</strong> <strong>de</strong>sta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> heróica.<br />

Tenho a Gazeta, tenho a Semana, tenho a Escola Normal (on<strong>de</strong> finjo ensinar<br />

pe<strong>da</strong>gogia); tenho os exames <strong>de</strong> português na instrução pública, tenho uma<br />

advocacia manhosa, tenho inúmeros cacetes, tenho o diabo.”<br />

Em confidência a Lúcio: “Se eu tivesse ficado em tua terra, ganharia a mesma<br />

importância, mas não pu<strong>de</strong> suportar aquilo. Voei <strong>de</strong> lá para aqui e, embora<br />

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