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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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Evanildo Bechara<br />

lhães por ter colocado o pronome átono <strong>de</strong>pois do verbo na oração subordina<strong>da</strong><br />

relativa e ain<strong>da</strong> por cima <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um adjunto adverbial. E não seria<br />

<strong>de</strong> admirar que, se fosse versejador, sugerisse aos alunos uma emen<strong>da</strong>, substituindo<br />

um verso, como o <strong>de</strong> Magalhães, belo e sugestivo, por outro corretíssimo,<br />

do ponto <strong>de</strong> vista gramatical, mas sem nenhum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> expressão.<br />

Foi com Silva Ramos que adquiri o gosto do gênero <strong>de</strong> comentários que tenho<br />

feito à obra <strong>de</strong> alguns autores nossos e portugueses, <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> servir<br />

<strong>de</strong> exemplo a edição crítica que organizei <strong>da</strong>s poesias <strong>de</strong> Casimiro <strong>de</strong><br />

Abreu... Esses comentários têm suas raízes nas lições do querido professor,<br />

o qual lançou em meu espírito sementes que frutificaram... Sabia fazer com<br />

que os alunos tomassem gosto pelo estudo <strong>da</strong> língua. E o mais importante...<br />

é que lecionou à nossa turma apenas durante o ano <strong>de</strong> 1897. Mesmo assim,<br />

pô<strong>de</strong> influir fortemente em meu espírito. 6<br />

Na oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste sesquicentenário <strong>de</strong>sejo mostrar-vos, em mo<strong>de</strong>sto<br />

bosquejo, um Silva Ramos eminentemente filólogo, no mais amplo sentido <strong>de</strong><br />

que se reveste o termo, com um embasamento teórico que raramente se encontra<br />

nos seus contemporâneos, numa época <strong>de</strong> formação superior autodi<strong>da</strong>ta<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um momento histórico altamente renovador nos méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> estudo<br />

6 Apud Maximiano <strong>de</strong> Carvalho e Silva, Sousa <strong>da</strong> Silveira. O Homem e a Obra. Sua Contribuição à Crítica<br />

Textual no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Presença / Pró-Memória / Instituto Nacional do Livro, 1984, pp.<br />

11-12. Também a este mesmo propósito se manifesta M. Ban<strong>de</strong>ira em carta a Alphonsus <strong>de</strong><br />

Guimaraens Filho, <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1942: “Não tenho no entanto a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estar fazendo<br />

sonetos tão bonitos como esses que você me mandou. Imperfeições e <strong>de</strong>ficiências? Sinceramente não<br />

encontro nenhumas. O primeiro verso do primeiro soneto tem onze sílabas; e o quarto verso do<br />

primeiro e do segundo soneto só tem nove. Mas <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> minha antologia romântica e <strong>da</strong> edição <strong>de</strong><br />

Casimiro, do Sousa <strong>da</strong> Silveira, um gran<strong>de</strong> poeta e gran<strong>de</strong> versejador como você não tem que <strong>da</strong>r<br />

satisfações a ninguém: nós é que temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir, como eu e o Silveira fizemos, os motivos<br />

secretos intuitivos que levam os poetas <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> a pôr versos <strong>de</strong> 11 e 9 sílabas no meio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cassílabos. No caso <strong>dos</strong> seus sonetos estão transparentes os tais motivos, e quando você morrer (o<br />

que espera seja <strong>da</strong>qui a uns sessenta e tantos anos) e se fizer uma edição crítica <strong>de</strong> suas obras poéticas<br />

há <strong>de</strong> aparecer um Sousa <strong>da</strong> Silveira para o interpretar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s possíveis cavalgaduras do fim<br />

do século XX ... (Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Manuel Ban<strong>de</strong>ira. Itinerários. Cartas a Alphonsus <strong>de</strong> Guimaraens Filho.<br />

São Paulo: Livraria Duas Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 1974, pp. 84-85.)<br />

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