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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />

nio que percorremos. Não se pula uma <strong>da</strong>ta sem pular-se um livro. O escritor<br />

violou doze vezes segui<strong>da</strong>s o nonum primatur in anno...”<br />

Diz Eucli<strong>de</strong>s, comentando o período:<br />

De 1889 a 1895 houve aparente <strong>de</strong>scanso. A República, feita numa madruga<strong>da</strong>,<br />

criara a ilusão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s coisas feitas <strong>da</strong> noite para o dia. Valentim,<br />

como to<strong>dos</strong>, vacilou na vertigem geral. Ordinariamente se acredita que o empolgasse<br />

o anseio <strong>da</strong> fortuna fácil, naquela quadra que a ironia popular ferreteou<br />

com o nome <strong>de</strong> ‘encilhamento’. Com efeito, salvante alguns artigos esporádicos,<br />

o incansável homem <strong>de</strong> letras parecia mu<strong>da</strong>do num infatigável homem<br />

<strong>de</strong> negócios. E fundou – como to<strong>da</strong> a gente – uma companhia.<br />

Mas consi<strong>de</strong>rai como o sonhador <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhou as voltas retorci<strong>da</strong>s <strong>dos</strong> cifrões<br />

e alinhou parcelas como se alinhasse versos; aquela ‘Educadora’, que se<br />

transformou <strong>de</strong>pois numa vulgar companhia <strong>de</strong> seguros, era uma fantasia<br />

comercial. Não segurava vi<strong>da</strong>s, segurava inteligências; e o segurado, ao invés<br />

<strong>de</strong> um ajuste sinistro com a morte, a troco <strong>de</strong> alguns contos <strong>de</strong> réis, garantia<br />

a educação <strong>dos</strong> filhos.<br />

O <strong>de</strong>vaneio mercantil não vingou.<br />

Na expressão <strong>de</strong> Caio Prado Júnior sobre o Encilhamento:<br />

A quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s novas empresas era fantástica e não tinha existência<br />

senão no papel. Organizavam-se apenas com o fito <strong>de</strong> emitir ações e <strong>de</strong>spejá-las<br />

no mercado <strong>de</strong> títulos, on<strong>de</strong> passavam <strong>de</strong> mão em mão em valorizações<br />

sucessivas. Chegaram a faltar nomes apropria<strong>dos</strong> para <strong>de</strong>signar novas<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e inventavam-se as mais extravagantes <strong>de</strong>nominações.<br />

A transformação terá sido tão brusca e completa que revemos as próprias<br />

classes e os mesmos indivíduos mais representativos <strong>da</strong> monarquia, <strong>da</strong>ntes ocupa<strong>dos</strong><br />

com a polícia e funções similares, e no máximo com uma longínqua e sobranceira<br />

direção <strong>de</strong> suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais, mu<strong>da</strong><strong>dos</strong> subitamente em ativos<br />

especuladores e negocistas. Ninguém escapará aos novos imperativos <strong>da</strong> época.<br />

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