Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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O coronel ficou bestificado. Podia esperar tudo, menos aquela resposta.<br />
Mas não <strong>de</strong>sistiu e disse:<br />
– Está bem, Presi<strong>de</strong>nte. Se o senhor não me po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r força, eu quero, ao<br />
menos, um clarim.<br />
Diante do espanto do Presi<strong>de</strong>nte, o Coronel Fraga acrescentou:<br />
– Eu não quero um homem que toque clarim, não senhor. Eu quero somente<br />
o clarim, o instrumento...<br />
Inglês <strong>de</strong> Sousa or<strong>de</strong>nou fosse entregue um clarim ao <strong>de</strong>sapontado coronel,<br />
que mandou ensinar os principais toque militares ao pajem que o acompanhava.<br />
E quando este se manifestou perito em clarina<strong>da</strong>s, o coronel retornou viagem<br />
para a sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>zinha natal, on<strong>de</strong> precisava impor, <strong>de</strong>finitivamente, o seu<br />
prestígio político. Calculou as coisas para chegar às portas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> antes do<br />
dia amanhecer. E mandou que o improvisado corneteiro soprasse a plenos pulmões<br />
o clarim <strong>da</strong> vitória... A população acordou espanta<strong>da</strong> com aquela intervenção<br />
militar. O coronel escon<strong>de</strong>u o clarim numa moita, entrou em sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e foi dizendo a to<strong>dos</strong>, amigos e inimigos políticos:<br />
– A força aí está cercando a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Vocês não ouviram os toques <strong>de</strong> clarim?<br />
Pois é: o prestígio agora é nosso. E havemos <strong>de</strong> realizar a mais honesta <strong>da</strong>s eleições...<br />
Parece, conclui Rodrigo Octavio Filho, que a terra do Coronel Fraga foi a<br />
única, <strong>de</strong> Sergipe, que não <strong>de</strong>u, naquela eleição, um único voto a candi<strong>da</strong>to<br />
oposicionista...” 5<br />
Tendo-se <strong>de</strong>mitido <strong>da</strong> Presidência <strong>de</strong> Sergipe, foi nomeado Presi<strong>de</strong>nte do<br />
Espírito Santo; e, eleito novamente <strong>de</strong>putado provincial por São Paulo, profere<br />
seu parecer, “obra monumental”, sobre o Código Comercial; volta a Santos<br />
“e entrega-se <strong>de</strong> corpo e alma à advocacia”. Em 1891, publica, em Santos, O<br />
missionário, na tipografia do Diário <strong>de</strong> Santos, “<strong>de</strong> que era proprietário”. 6<br />
5 Ob. cit., pp. 25-26.<br />
6 Ob. cit., p. 26.<br />
O ficcionista Inglês <strong>de</strong> Sousa<br />
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