Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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Literatura sem livros, literatura <strong>de</strong> folhetos, posso também chamar àquela<br />
que ora temos. Escassíssima, a nossa produção literária quase que se resume<br />
hoje exclusivamente no conto, na fantasia ligeira e <strong>de</strong>svaliosa, na poesia, ou<br />
melhor, em alguns versos publica<strong>dos</strong> nas folhas diárias ou em efêmeras revistas.<br />
O romance, a crítica, a filosofia, a história, os estu<strong>dos</strong> literários, o drama,<br />
este principalmente, morrem ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente à mingua <strong>de</strong> produção. A mesma<br />
literatura política [...] não dá senão raros e mesquinhos frutos.<br />
Segundo Wilson Martins:<br />
O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />
Constituído, como os Estu<strong>dos</strong> brasileiros <strong>de</strong> José Veríssimo, <strong>de</strong> artigos escritos<br />
para diversos perío<strong>dos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1881, o livro Escritores e escritos <strong>de</strong> Valentim<br />
Magalhães oferece curioso documento sobre a nossa vi<strong>da</strong> intelectual<br />
nesse período. Mencionemos, antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, que começa com um elogio<br />
<strong>da</strong> Forma – “Ninguém que almeje passar por poeta tem mais o direito<br />
<strong>de</strong> ignorar os preceitos gerais <strong>da</strong> arte do verso.”<br />
A<strong>de</strong>pto do culto <strong>da</strong> forma, dizia Valentim Magalhães:<br />
“Essa religião não tem entre nós mais que meia dúzia <strong>de</strong> sacerdotes. E<br />
esses mesmos celebram as cerimônias do seu culto, praticam os divinos<br />
mistérios <strong>de</strong> sua seita no meio <strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> ignorantes, que lhes<br />
não enten<strong>de</strong> o Latim, e que só aplau<strong>de</strong> os versejadores pesadões, aqueles<br />
que apenas conhecem <strong>da</strong> Poesia este princípio: escrever em linhas curtas.<br />
Felizmente ain<strong>da</strong> temos alguns <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> raça divina <strong>dos</strong> helenos,<br />
ain<strong>da</strong> temos alguns poetas... que se dão à árdua e <strong>de</strong>liciosa tarefa <strong>de</strong> procurar<br />
a forma perfeita. Pesam as palavras em balanças microscópicas, me<strong>de</strong>m-nas,<br />
estu<strong>da</strong>m-nas, combinam-nas, como um alquimista fantástico fazendo<br />
ouro; estu<strong>da</strong>m Lecomte (sic), Gautier e Banville, como se foram<br />
trata<strong>dos</strong> <strong>de</strong> botânica e <strong>de</strong> mineralogia, e fazem o que tanto aconselhava<br />
o poeta <strong>da</strong> Comédia <strong>da</strong> Morte e tanto recomen<strong>da</strong> o Artur <strong>de</strong> Oliveira –<br />
lêem os dicionários.<br />
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