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Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras

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O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />

cutar. O tempo que me <strong>de</strong>ixavam livre as ocupações <strong>de</strong> que provinha o pão<br />

quotidiano e o meu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, precário sempre, chegavam apenas<br />

para escrever o conto, a notícia crítica, a crônica faceta, o artiguinho diário a<br />

que me comprometera em um ou vários jornais; não havia possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

realizar o meu sonho, satisfazendo a exigência <strong>dos</strong> críticos – escrever uma<br />

obra <strong>de</strong> fôlego.<br />

Sem parágrafo escrevi-o sempre <strong>de</strong> uma assenta<strong>da</strong>, capítulo por capítulo,<br />

e, acabado, relia-o, corrigia-o, man<strong>da</strong>va copiá-lo por um secretário, conferia<br />

a cópia e remetia-a aos tipógrafos.<br />

Se conto este pormenores é para explicar as muitas imperfeições <strong>de</strong> forma<br />

que sou o primeiro a reconhecer, tais como a vulgari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas<br />

frases, a fraqueza <strong>de</strong> certas expressões, o banal <strong>de</strong> vários títulos <strong>de</strong> capítulos<br />

(e <strong>de</strong>i-lhes títulos por uma conveniência pessoal: para orientar-me em ca<strong>da</strong><br />

capítulo do estado, do ponto em que ficara o enredo, a composição), um ou<br />

outro galicismo, como “golpe <strong>de</strong> vista”, e outros <strong>de</strong>feitos mais.<br />

O capítulo que primeiro escrevi, com a intenção <strong>de</strong> fazê-lo o primeiro livro,<br />

foi o quinto <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> parte – um <strong>dos</strong> últimos: eu havia principiado<br />

pelo fim!<br />

Não resolvi fazer um romance naturalista, nem <strong>de</strong> aventuras, nem <strong>de</strong> psicologia,<br />

nem simbolista, nem i<strong>de</strong>alista; resolvi simplesmente fazer um romance.<br />

E ele foi-me saindo <strong>dos</strong> bicos <strong>da</strong> pena com um certo feitio, uma certa fisionomia,<br />

um certo caráter, que não tentarei <strong>de</strong>finir e ain<strong>da</strong> menos explicar.<br />

Se to<strong>da</strong>via me interpelasse alguém sobre tal ponto, diria que para o seu<br />

autor é o meu romance filiado à escola <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a única, que como os<br />

Goucourt, acredito real e fecun<strong>da</strong> em Arte. To<strong>dos</strong> os tipos que nele fiz mover-se,<br />

e não sei se viver, encontrei-os na vi<strong>da</strong> social, não só fluminense, não<br />

só brasileira, mas <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os países.<br />

O romance Flor <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>screve a vi<strong>da</strong> amorosa <strong>de</strong> uma senhora <strong>da</strong> alta<br />

burguesia, Corina, e está dividido em duas partes, ca<strong>da</strong> uma terminando com<br />

um suicídio, o primeiro, do amante, que era filho adotivo do marido, e o se-<br />

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