Ciclo dos Fundadores da ABL - Academia Brasileira de Letras
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O fun<strong>da</strong>dor Valentim Magalhães<br />
Da capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer amigos, mesmo à distância, aponte-se o <strong>de</strong>poimento<br />
<strong>de</strong> Xavier Marques no discurso <strong>de</strong> posse nesta Casa:<br />
Um <strong>dos</strong> fun<strong>da</strong>dores <strong>de</strong>sta Casa, Valentim Magalhães, cuja memória nesta<br />
ocasião me é grato evocar, fez que eu, certa vez, cativo <strong>de</strong> sua insistência, lhe prometesse<br />
candi<strong>da</strong>tar-me à primeira vaga que se abrisse na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. De ânimo<br />
leve, um tanto fascinado, prometi. Mas apenas acabara <strong>de</strong> fazê-lo, tamanhos se<br />
me afiguraram os óbices por vencer na íngreme subi<strong>da</strong> a que me convi<strong>da</strong>va o<br />
amigo, que achei conveniente ir-me logo afeiçoando à idéia <strong>de</strong> uma evasiva, com<br />
qualquer pretexto, no momento oportuno, isto é, no momento crítico.<br />
Valentim Magalhães possuía, aprimorado, no melhor sentido <strong>da</strong> expressão,<br />
o espírito <strong>de</strong> camara<strong>da</strong>gem. Nunca lhe pu<strong>de</strong> ouvir as razões que o induziram<br />
a consi<strong>de</strong>rar plausível a minha entra<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época, para a<br />
<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. Pessoalmente nunca nos conhecemos. E somente em honra do<br />
seu caráter afetivo assinalo a simpatia com que sempre me distinguiu o autor<br />
que, <strong>de</strong>zenove anos antes, estreara nas letras sob os auspícios <strong>de</strong> sua brilhante<br />
nomea<strong>da</strong>.<br />
O tempo, para quem eu, com tão pouca fé pessoal e <strong>de</strong>svalido <strong>de</strong> “estro” havia<br />
apelado, <strong>de</strong>u a mais <strong>de</strong>sconcertante resposta aos meus <strong>de</strong>sígnios. Em março<br />
<strong>de</strong> 1903 dizia-me em carta o sau<strong>dos</strong>o acadêmico: “Escreva-me, <strong>da</strong>ndo-me notícias<br />
suas, e <strong>de</strong>ci<strong>da</strong>-se a apresentar-se à primeira vaga <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong>.”<br />
Em menos <strong>de</strong> dois meses, em 17 <strong>de</strong> maio, verificava-se a vaga. Era a <strong>de</strong> Valentim<br />
Magalhães...<br />
Assim é que fui candi<strong>da</strong>to, sem ilusões, quando razão não tinha para esperar<br />
senão um junto revés: candi<strong>da</strong>to por um <strong>de</strong>sses motivos irraciocina<strong>dos</strong> do sentimento,<br />
que às vezes nos levam a arcar com aparências au<strong>da</strong>zes e emprestam<br />
colorido extravagante, pretensioso, no caso, às ações mais inocentes.<br />
Esta reminiscência é uma homenagem do coração <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> àquele que, embora<br />
trocando pela justiça a liberali<strong>da</strong><strong>de</strong>, primeiro cogitou <strong>de</strong> franquear-me este<br />
egrégio cenáculo. Por exígua que seja, eu não a podia negar-lhe.<br />
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