Síxpavoi
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324 DIDASKAI.iA<br />
um modo até certo ponto ingénuo chega-se a praticar em filologia<br />
um preconceito comum na arqueologia, que consiste em julgar os<br />
dados mais antigos por redução a dados mais bem conhecidos de<br />
épocas recentes. E, assim, a história da língua grega e dos seus<br />
significados primitivos pode julgar-se mais ou menos acessível<br />
quando bem conhecida a fase clássica da constituição semântica da<br />
maior parte dos seus vocábulos. Não bastará existir o interesse pelo<br />
levantamento do léxico homérico e dos primitivos dialectos se,<br />
por vício de formação, os filólogos clássicos estruturarem a compreensão<br />
desses novos dados a partir de épocas subsequentes em<br />
que o vocabulário é melhor conhecido.<br />
O que se verifica com o termo <strong>Síxpavoi</strong> e com a arqueologia<br />
linguística de xpavíov, xápa, xépaç é o de significarem num contexto<br />
indo-europeu reconstituído, não tanto cabeça como parte<br />
do corpo humano mas o cume de vultos, de agregados de membros,<br />
ou a parte mais alta, própria e exclusivamente humana de um mundo<br />
em que o astral, o vivo e o cósmico ainda se não diferenciam<br />
completamente . Pode-se ainda chamar a atenção para xpavíov<br />
essencialmente como 52 xépaç, ou corno, o que conduz imediatamente<br />
a uma área de referenciação mitológica e antropozoomórfica de<br />
ritos e concepções míticas, que talvez não se possam dizer totémicas<br />
nem idolátricas, mas correspondam a arquetípico e profundo simbolismo<br />
do animal como força viva simbolizado pela sua armação .<br />
53<br />
O que se diz a propósito de xpavíov, não na ingénua acepção<br />
de cabeça, mas nos sentidos primordiais de cume de forças vitais,<br />
de homem, ou de armação do animal por excelência, poder-se-ia<br />
também dizer num alargamento arqueológico das acepções do sentido<br />
de cabeça como «copa», «cara», «testa» e «cérebro». Porém, de todas<br />
estas acepções, mesmo quando amplificadas por atenta arqueologia<br />
a um outro cosmos de referência semântica, é o termo xpavíov que<br />
interessa directamente para a reconstituição do sentido dos <strong>Síxpavoi</strong><br />
de Parménides.<br />
5 2<br />
Cf. as concepções gregas antropológicas primitivas em Homero: R. B. ONIANS,<br />
The Origins of European Thought, pp. 98 e segs.. O corpo humano é referido apenas<br />
como um agregado de membros (xéXea, ou pela parte determinante que é a cabeça.<br />
5 3<br />
Como se verá no estudo do simbolismo o termo xápaç, cornu, «corno» tem um<br />
sentido de virilidade, força e serve para caracterizar a própria substância vital e a abundância<br />
da mesma (cf. cornucopia); cf. ONIANS, id., pp. 236 e segs. sobretudo veja-se p. 238:<br />
«If horas were thus believed to be outcrops of the brain, the procreative element, we<br />
can understand why the name for horn and for brain should be akin. If has long<br />
been recognised that cornu, xépaç, cerebrum, xápa, horn, Him ('brain'), etc., are related but<br />
they have been explained as having in common the notion of «top of».»