Síxpavoi
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360 didaskalia<br />
clássica, do casamento de Gaia com o Tártaro, ou seja, das potências<br />
do fogo telúrico e infernal, nasceram o dragão Tífon e a serpente<br />
ou víbora Equídna 176 .<br />
Tífon é descrito como um gigante semi-humano, semi-animal,<br />
o maior de todos os filhos da Terra e cuja estatura alcançava os<br />
céus. Pelo facto do seu corpo ser alado, dos olhos serem flamejantes,<br />
de estar rodeado de víboras da cintura para baixo e de, em<br />
vez de dedos, ter cem cabeças de dragões nas mãos, esta figura<br />
aparece com um simbolismo predominantemente ígneo. Se a multiplicidade<br />
das serpentes pode ter uma conotação fálica, e se as asas<br />
podem representar também o carácter expansivo e prolífico de um<br />
fogo que não está encerrado no inferno, mas se acende e amplifica<br />
até aos céus no corpo do monstro, o mais importante a reconhecer<br />
é já o sinal das cem cabeças que nascem dos dedos, ou mais<br />
propriamente das mãos. São as extremidades, as pontas de forças<br />
incompreensíveis dentro desta inteligibilidade primitiva se não fossem<br />
referidas como cabeças, de modo análogo ao que mais tarde se diz,<br />
em Aristóteles, dos movimentos também inexplicáveis sem a presença<br />
de motores 177 .<br />
Equídna, a víbora, é semi-mulher, semi-serpente e o seu simbolismo<br />
é predominantemente aquático, ou pelo menos líquido, referindo<br />
como que um sentido de fogo líquido ou de magma e lava<br />
do cosmos primordial 178 .<br />
Todos os filhos da união destes dois monstros foram também<br />
monstros: o cão Ortrós e o cão Cerebero, a Hidra de Lerna e a<br />
Quimera. Outras tradições referem outras uniões de Equídna mas<br />
igualmente os filhos representam forças teratológicas.<br />
Muito curioso é ver-se a Hidra como um dos quatro filhos<br />
dessa união primitiva da proliferação ígnea de Tífon e do movimento<br />
larvar da serpente Equídna. Ortrós e Cerebero representam<br />
a acentuação respectiva do elemento aéreo e do elemento telúrico<br />
enquanto na Hidra de Lerna e na Quimera se acentua o predominante<br />
simbolismo aquático e ígneo.<br />
O cão Ortrós é descrito com várias cabeças; Cerebero, o guardião<br />
do Hades diz-se que possui três cabeças de cão e que no<br />
1 7 6<br />
Cf. P. GRIMAL, Dictionnaire de la Mythologie Grecque et Romaine, p. 466 a-b e<br />
p. 467<br />
1 7<br />
a.<br />
7<br />
Cf. ARISTÓTELES, Met,, K, 12, 1068 a, 8 e segs..<br />
1 7 8<br />
Cf. P. GRIMAL, Dictionnaire de la Mythologie Grecque et Romaine, p. 132 a-b;<br />
cf. também APOLODORO, Bibi, II, 10.