Síxpavoi
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Aíxpavoi: da dupla visão ao discernimbnto 353<br />
clássica. Os «di-crânicos» são antes os dois cérebros da primitiva<br />
distinção médica e todas as outras dualidades análogas nas partes<br />
do corpo.<br />
Esta interpretação fisicista e naturalista do antigo problema<br />
parmenidiano faz esquecer à filosofia naturalista pós-aristotélica a<br />
importância dos Síxpocvoi, que passarão a ser encarados na tradição<br />
latina apenas como casos teratológicos, monstra ou prodigia.<br />
No entanto e, por outro lado, deve-se notar a persistência<br />
do tema dos Síxpavot amplificado por uma dimensão simbólica<br />
predominantemente ética, que a partir da noção de duplo caminho<br />
e dos seres errantes que nele vagueiam ignorantes e divididos pelas<br />
suas paixões, aparece repetidamente na tradição do pensamento<br />
ocidental .<br />
Finalmente, 156 devem-se considerar as principais posições que<br />
a moderna crítica tem assumido na reinterpretação do pensamento<br />
de Parménides, que diversamente situam o contexto do próprio<br />
pensamento grego antigo como horizonte de referência dos <strong>Síxpavoi</strong>.<br />
A interpretação teratológica corresponde à abordagem fenomenológica<br />
do «Poema» e nela se entendem os Síxpavot numa perspectiva<br />
estética antevendo o grande drama cosmológico de Empédocles<br />
como enquadramento dos <strong>Síxpavoi</strong>. E a interpretação fornecida<br />
pelos estudos eruditos de natureza positiva, que se apoiam nesta<br />
mera metáfora arcaica de seres com duas cabeças, duas faces, dois<br />
cornos ou antenas .<br />
157<br />
Uma outra perspectiva tem sido desenvolvida desde John Burnet<br />
e defende como contexto da Só^a parmenidiana a doutrina da crase<br />
(xpãcnç) entre o calor e o frio, ou entre o seco e o húmido. Toda<br />
a cosmologia do eleata estaria determinada por esta concepção<br />
fisicalista da crase harmónica destes dois elementos. Esta interpretação<br />
baseia-se aliás em referências da antiga doxografia e nomeadamente<br />
de Diógenes Laércio .<br />
158<br />
1 5 6<br />
É afinal o sentido que está presente na acepção lexical de Síxpavot dado por<br />
Hesychius, 1830-31, p. 458: «Stxpávouç • -ràç TpióSouç Seï Sè voeív Sixpávouç ràç àjib<br />
fiiãç àpyjiç èrzi Súo êxveuoiiaaç, olov Súo tÉàt) éy_oúaaç.» Cf. também a interpretação<br />
dada por M. UNTERSTEINER, Parmenide, p. 135.<br />
1 5 7<br />
Cf. ONIANS, The Origins of European Thought; veja-se também a revalorização<br />
fenomenológica feita por O. LAFFOUCRIÈRE, Le Destin de la Pensée et «La Mort de Dieu»<br />
selon Heidegger, pp. 58 e segs.; J. BEAUFRET, Dialogue avec Heidegger-Philosophie Grecque,<br />
Paris, Minuit, 1973, pp. 65 e segs. e ainda o próprio M. HEIDEGGER, Einführung in die<br />
Metaphysik, pp. 85 e segs..<br />
1 5 8<br />
DIÓGENES LAIRCIO, IX. Cf. também J. BURNET, Early Greek Philosophy, pp. 192<br />
e segs..