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Síxpavoi

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336 DIDASKALIA<br />

do contraditório e não entrava em consideração com os aspectos<br />

modais da «lógica» do eleata é, por seu turno, sujeito a uma<br />

interpretação modal predominante no pensamento de Platão 87 .<br />

Entre o ser e o não-ser aparece o poder ser, o estado de participação<br />

graduado e hierárquico, o caminho do meio e mediador que acaba<br />

por constituir a razão de ser da dialéctica e dialéctica do próprio<br />

ser da razão.<br />

Claro que, tal abordagem do próprio pensamento platónico<br />

supõe uma discutível hermenêutica, cuja crítica não se põe neste<br />

momento, mas da qual se deve salientar a evidenciação do carácter<br />

relacional e integrador do processo dialéctico até ao limite da sua<br />

própria ambiguidade em relação aos princípios que definem tal<br />

dialéctica 88 .<br />

Os Síxpocvoi de Parménides situados nessa terceira via entre<br />

a do real perfeito e a do perfeito impossível constituem uma<br />

espécie de argumento pelo terceiro homem, à maneira socrática,<br />

que mediatiza e universaliza gradualmente o nível de referência<br />

gnoseológico e ontológico em que se encontram. As duas «faces»<br />

dos <strong>Síxpavoi</strong> já não serão as duas caras dos dialécticos de Aristóteles,<br />

dos sofistas contraditórios, dos desonestos retóricos, mas<br />

antes, os dois elos e perspectivas que ascendente ou descendentemente<br />

articulam a dialéctica do ser ao não-ser e do não-ser ao<br />

ser, unificando o real na sua mesmidade de fundo e universal 89 .<br />

O sentido dos <strong>Síxpavoi</strong> aparece, naturalmente, como o da hesitação<br />

negativa, o da divisão em tendências opostas, o da própria incapacidade<br />

de prosseguir a dialéctica no seu ritmo, mas não chega a ser<br />

contraditório nem de pura privação de sentido.<br />

No «Parménides» de Platão apresenta-se, de modo claro, o estatuto<br />

complementar e positivo dos <strong>Síxpavoi</strong>: exige-se que de algum<br />

modo o ser não seja e o não-ser, seja, o que equivale a dizer<br />

que o possível (Súvapuç) como força de relacionação do real em<br />

todas as suas determinações surge a partir da diferenciação dual,<br />

«di-crânica», de uma visão que antiteticamente constitui um momento<br />

indispensável à própria síntese 90 .<br />

8 7<br />

Gf. PLATÃO, Sofista, 237 a; 241, d e segs. em que se expõe a refutação do<br />

imobilismo parmenidiano por uma concepção dialéctica em que o não-ser é tomado como<br />

alteridade.<br />

8 8<br />

Com efeito, só o TÒ áyaôóv constitui um princípio referencial e um limite do<br />

processo dialéctico, que acaba por definir não só o pleno movimento deste processo,<br />

mas também o seu sentido e finalização.<br />

8 9<br />

Cf. PLATÃO, Sofista, 254 d e segs.<br />

9 0<br />

Cf. lei., Parménides, 166 c.

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