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Síxpavoi

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Aíxpavoi: da dupla visão ao discernimbnto 369<br />

O mito do andrógino tal como é descrito por Platão lembra<br />

directamente a descrição já referida de Empédocles e parece testemunhar<br />

uma concepção muito antiga de uma fase em que se diz<br />

que a humanidade é ovípara e em que esses seres são perfeitos ou<br />

completos.<br />

Os <strong>Síxpavoi</strong> de Parménides poderiam assim entender-se nesta<br />

tradição pitagórico-platónica como seres ainda completos em quem<br />

não se operou nem a divisão dos sexos-corpos, nem a divisão das<br />

mentes-razão, na medida em que afirmam o ser e o não-ser como<br />

sendo e não sendo o mesmo. Embora noutra perspectiva não<br />

pareça legítima essa aproximação, porquanto os <strong>Síxpavoi</strong> de duas<br />

cabeças podem já representar a própria dualidade de razões atestada<br />

na tradição homérica já referida .<br />

211<br />

De qualquer modo, o andrógino é di-crânico e à.y.(piizç>6aomov<br />

e isso concede-lhe uma dupla visão num espaço, dir-se-ia pelo menos<br />

a quatro dimensões, que estabelece a própria relação com o cosmos<br />

envolvente em termos de um movimento orbital rotativo de plena<br />

visão ou de um olhar a toda a volta .<br />

Mas serão os 212 <strong>Síxpavoi</strong> os que olham nessa rotação centrífuga<br />

da órbita do andrógino ou os que se olham um ao outro na<br />

sua precária ou duradoura unidade?<br />

No contexto do simbolismo do andrógino de Platão pode-se<br />

induzir que esse olhar não é reflexivo, que essas faces não olham<br />

uma para a outra num encantamento narcisíaco ou numa cegueira<br />

primitiva. De facto, a androginia dos <strong>Síxpavoi</strong> manifesta-se na divergência<br />

do olhar e na relativa independência das próprias cabeças.<br />

Em muitas mitologias e em concepções muito antigas aparecem<br />

referências paralelas às dos andróginos de Platão. Algumas provêm<br />

da tradição judaica numa reinterpretação mística do Adão antes da<br />

separação em Adão e Eva . Outras correspondem a ensinamentos<br />

que transitaram para o Cristianismo 213 e se manifestam em autores<br />

alquimistas e gnósticos como por exemplo Jacob Böhme .<br />

Houve mesmo interpretações da Bíblia que pretenderam 214 ver<br />

na descrição dos quatro vivos ou animais divinos que tinham forma<br />

humana, cada um com quatro faces e quatro asas e movendo-se<br />

2 1 1<br />

Vide supra, pp. 345-346 e nota 125.<br />

2 1 2<br />

A propósito do olhar a duas dimensões cf. P. D. OUSPENSKY, A New Model of<br />

lhe Universe, London, Routledge & Kegan Paul, 1967 , p. 88 e segs..<br />

3<br />

2 , 3<br />

Cf. C. G. JUNG, Mysterium Coniunctionis, pp. 544 e segs.: «Adam und Eve».<br />

2 1 4<br />

Cf. J. BOEHME, Mysterium Magnum, ed. cit..

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