Síxpavoi
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372 didaskalia<br />
subjectivo endógeno, na antropologia primitiva. Se neles não existe<br />
a unidade regeneradora e cíclica como a da Fénix renascida, também<br />
não está presente a relativização do olhar e da visão numa poliopsia<br />
esfíngica, afinal equivalente a outras tantas representações em que<br />
a Esfinge se apresenta de modo equivalente como indiferença do olhar<br />
ou plena cegueira .<br />
224<br />
A questão dos <strong>Síxpavoi</strong> não é só a questão de seres com<br />
duas cabeças, mas com duplo sentido do olhar que representam<br />
duas tendências, dois feixes, duas pontas ou cornos do próprio<br />
processo cósmico antropogónico.<br />
A Hidra e a Esfinge simbolizam o começo e o termo de um<br />
ciclo mitológico em que Janus, o Hermafrodita e o Andrógino<br />
constituem momentos mais próximos da virtualidade metafórica<br />
dos Sbtpavou Porém, se em todas estas determinações simbólicas<br />
se prestou especial atenção à policefalia e à monocefalia, acentuando-se,<br />
como é óbvio, a importância dos bicéfalos, em todos<br />
estes emblemas mitológicos também é importante a consideração<br />
do número dos olhos e da disposição do olhar e a referência a<br />
hastes, cornos e antenas.<br />
Por oposição aos Ciclopes de um só olho, e de olhar circular,<br />
os muitos olhos da Hidra e outras poliopsias da mais arcaica<br />
mitologia acabam por se equivaler e representar aspectos simétricos<br />
e complementares. Se o Ciclope tudo vê (sem se ver), a Hidra<br />
vê-se em tudo (sem nada ver): o Ciclope corresponde ao campo<br />
da visão e a Hidra ao momento e ao lugar sempre movediço da<br />
implantação do próprio olho. Olhos que se comportam como<br />
crâneos ou cornos, centros de força e de comunicação, gânglios que<br />
agregam partes da explicação teratológica do próprio corpo .<br />
225<br />
Por outro lado, Janus, o Hermafrodita e o Andrógino quando<br />
bicéfalos ou bi-frônticos apresentam-se com quatro olhos cuja relacionação<br />
mútua parece melhor fazer entender o que se simboliza<br />
no chamado quiasma óptico.<br />
Medusa é a figura que complementa este quaternário do<br />
olhar: representa o momento da bifurcação enquanto ponto cego<br />
e indiferença total . No fundo, constitui a cabeça do meio da<br />
226<br />
2 2 4<br />
Quanto ao simbolismo da Fénix veja-se P. GBIMAL, Dictionnaire de la Mythologie<br />
Grecque et Romaine, pp. 265 b-266 a.<br />
2 2 5<br />
A propósito deste símbolo cf. J. CHEVALIER, Dictionnaire des Symboles, pp. 549-552.<br />
2 2 6<br />
Cf. P. GRIMAL, Dictionnaire de la Mythologie Grecque et Romaine, p. 168 a-b;<br />
cf. também P. DIEL, Le symbolisme dans la mythologie grecque, pp. 93-97.