28.02.2014 Views

Síxpavoi

Síxpavoi

Síxpavoi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Aíxpocvoi: DA DUPLA VISÃO AO DISCERNIMENTO 311<br />

do pensamento filosófico ocidental. Admite-se até que Parménides<br />

não tenha mesmo conhecido qualquer obra redigida por Heraclito<br />

ou a sua tradição mais directa 10 .<br />

Hoje, de um modo mais confiante e intuitivo do que a ingénua<br />

tese positivista, que sempre exigia influências históricas para reduzir<br />

momentos análogos no tempo, admite-se a sabedoria dos tempos<br />

como tempo de maturação da própria sabedoria e não será transposição<br />

compreender, por exemplo, o paralelismo entre certos textos<br />

da tradição profética e bíblica, ou entre Lao Tzeu, ou ainda entre<br />

Zoroastro, e o venerando Parménides.<br />

Martin Heidegger considera-o o primeiro ontólogo e apenas<br />

o contrapõe aos intuitos redutores que a metafísica platónico-<br />

-aristotélica irá instaurar como tradição filosófica 11 . O «Poema»<br />

aparece a uma nova luz não classificável segundo os parâmetros<br />

retóricos em que os classicistas paradigmatizaram os géneros literários<br />

da antiguidade, rotulando-o de poema didáctico, mas como a mn-rçcnç<br />

do próprio pensamento fazendo caminho, isto é, meditando 12 .<br />

No século vi a.C. em Eleia, Parménides como seu autor,<br />

é referida a existência de um poema a que os alexandrinos chamam<br />

como é hábito Ilepí cpúaswç e que se traduz erroneamente por<br />

«Acerca da Natureza» 13 . Os hexâmetros dactílicos, cuja lembrança<br />

1 0<br />

Cf. W. K. C. GUTHRIE, A History of Greek Philosophy, vol. II, pp. 6 e segs.; cf. sobretudo<br />

p. 23: «It is a much disputed historical question whether this criticism is aimed<br />

partly or solely at Heraclitus. There is no external evidence to help: we can only say it is<br />

possible, but not certain, that Parmenides had read the other's works».<br />

1 1<br />

Cf. Martin HEIDEGGER, Moira, (Parmenides, VIII, 34-41), in: Vorträge und Aufsätze,<br />

Tübingen, Pfullingen, 1954, pp. 27-52; Einführung in die Metaphysik, Tübingen, Max<br />

Niemeyer, 1953 ; Über den Humanismus, Bern, Francke V., 1947 , pp. 54-55 e também p. 81:<br />

«Das gtmv yàp 1 eivou des Parmenides ist heute noch ungedacht. 1 Daran lässt sich ermessen,<br />

wie es mit dem Fortschritt der Philosophie steht.»; várias interpretações dos pré-socráticos<br />

na perspectiva heideggeriana recuperam o sentido da antiga tradição filosófica e os seus<br />

valores de sugestão e de aproximação à sabedoria: cf. G. J. SEIDEL, Martin Heidegger<br />

and the Pre-socratics, An Introduction to its Thought, Lincoln, Univ. of Nebraska Press, 1964,<br />

pp. 58-86; Odette LAFFOUCRIÈRE; he Destin de la Pensée et «La Mort de Dieu* Selon<br />

Heidegger, La Haye, Martinus Nijhoff, 1968, pp. 41-63; Gianna de Cecchi Duso, L'interpretazione<br />

heideggeriana dei Presocratici, Padova, Cedam, 1970.<br />

De inspiração heideggeriana é a própria tradução do «Poema» de Parménides e o<br />

estudo respectivo publicado por Jean BEAUFRET (Le Poème de Parménide, Paris, P. U. F., 1955).<br />

1 2<br />

Desde Aristóteles que a categoria de polêsis contrasta com a da theoria e a da<br />

praxis mas o seu desenvolvimento em termos de criatividade artística e de constituição<br />

de uma estética é já redutor do sentido mais amplo que esta palavra possui em Platão<br />

e no pensamento pré-socrático. Contrastando technê com ars e aproximando a primeira<br />

de polêsis, M. Heidegger revaloriza o sentido da tarefa filosófica e a criatividade do pensamento<br />

meditante, ainda em oposição a um pensamento de cômputo ou calculante.<br />

Cf. HEIDEGGER, Die Frage nach der Technik in: Vorträge und Aufsitze, I, pp. 5-36 (sobretudo<br />

pp. 11 e segs.); id., Wissenschaft und Besinnung, in: ibid., pp. 37-62 (sobretudo pp. 47 e segs.).<br />

1 3<br />

Como refere J. BURNET (Early Greek Philosophy, London, Adam & Charles<br />

Black, 1892 ; reed. 1963 , pp. 363-364) o sentido do termo cpúaiç tem sido muito discutido<br />

1 4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!