Síxpavoi
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Aíxpavoi: da dupla visão ao discernimbnto 379<br />
e perspectivam, não tanto na conciliação espacial de um clássico<br />
sistema filosófico, mas, sobretudo, na temporalização irrequieta<br />
de um olhar em volta sem ver ninguém, ou num olhar olhos-nos-<br />
-olhos sem se ver a si próprio, num arrepio de tempo, num<br />
pressentimento do duplo.<br />
O duplo que é, afinal, o próprio; a alma a que se aspira,<br />
a perfeição perdida noutro tempo e que agora contemporânea se<br />
torna aparente, ilusória e falaciosa como a linguagem dos <strong>Síxpavoi</strong>,<br />
Mas é no carácter lúdico e incoativo desse dizer que surge o sinal<br />
eficaz de uma descontinuidade no olhar para uma abertura esplêndida<br />
e abissal da visão.<br />
Não se trata de um olhar dividido e monoliticamente cristalizado<br />
no mesmo que se olha, mas antes de uma visão discernida<br />
na fonte única e irrepetível, na descontinuidade máxima e infinita<br />
da sua própria origem. Os Síxpocvoi metamorfoseiam a di-visão<br />
do olhar, qual cegueira da unidade platónica, no discernimento da<br />
unicidade diferencial que cruxifica em duas direcções o corpo da<br />
palavra, glorificando no símbolo o silêncio esplêndido e ilimitado.<br />
Os Síxpavot já não são as instâncias e as entidades de um real<br />
ambiguamente suposto no tempo comum da conciliação ou no<br />
mesmo tempo que delimita o inconciliável. Eis o sinal de uma<br />
realidade que não é e de uma negação da realidade que também não é,<br />
um Não que está para além do ciclo lógico e ontológico da própria<br />
negação e do próprio nihil. Como sinal de transcendência, os Síxpavot<br />
dualizam de forma bizarra a guarda do ser e do não-ser, misturando<br />
os rebanhos de que são pastores, fazendo divergir e convergir no<br />
Único do equívoco a própria Transcendência que os paraliza um<br />
ao outro. Duas forças, duas energias, duas cabeças, balanço dos<br />
contrários e desmedida que na própria oposição persiste como diferença<br />
irredutível, os <strong>Síxpavoi</strong> são aqueles dois Senhores que, afinal,<br />
nunca se podem encontrar porque são o Mesmo e a sua radical<br />
Diferença.<br />
CARLOS HENRIQUE DO CARMO SILVA