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310 DIDASKAI.iA<br />
Desde que a Filosofia contemporânea se interessou historicamente<br />
por recuperar a sua própria origem e concedeu especial atenção<br />
aos pré-socráticos, e de entre eles nomeadamente a Heraclito de<br />
Éfeso e a Parménides de Eleia, o paradigma romântico e idealista<br />
que levava a estabelecer dicotomias e polarizações entre escolas<br />
e pensadores antigos comprometeu desde logo Parménides com<br />
Heraclito numa antítese que lhe parecia certa .<br />
Heraclito, o filósofo do devir universal, 8 da impermanência,<br />
e Parménides, o lógico ou ontólogo da imobilidade absoluta, do<br />
Uno, do Ser, eis o que na historiografia clássica de Hegel a<br />
Nietzsche se instaura. Mas, se Parménides não tinha dialogado em<br />
Platão senão indirectamente, como se disse, também não seria o<br />
diálogo forçado em que a moderna história da filosofia o pretendia<br />
fazer trocar argumentos com Heraclito de Efeso a consegui-lo de<br />
facto. O que sempre se verificou foi o recurso constante aos<br />
argumentos de Zenão e um esquecimento das características poéticas<br />
dos textos de Parménides .<br />
9<br />
Estudos recentes têm ao longo do nosso século demonstrado<br />
como Heraclito e Parménides são conciliáveis não por antítese<br />
dialéctica mas como marcos diferentes no mesmo período da aurora<br />
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•Jjauxíãv TpO£Tpá7T7)». Cf.<br />
1 DIELS-FRANZ, Die Fragmente der Vorsokratiker, Dublin/Zürich,<br />
Weidmann, 1966 , 1, 217).<br />
12<br />
8<br />
Esta oposição entre Heraclito e Parménides só começa a ser posta em causa a<br />
partir do estudo de Karl REINHARDT, Parmenides und die Geschichte der griechischen Philosophie,<br />
Bonn, 1916; reed. Frankfurt-Am-Main, Victorio Klostermann, 1959. Desde as Vorlesungen<br />
über die Geschichte der Philosophie de Hegel que se estabelecia a oposição nitida entre o Eleata<br />
e a filosofia do «devir» heracliteana. Também em Nietzsche em vários passos de Die<br />
Philosophie im tragische Zeitalter den Griechen (1872-1873) se encontra a oposição entre o<br />
jogo trágico do movimento em Heraclito e o excesso lógico em Parménides.<br />
9<br />
Desde Gaston Milhaud, Pierre-Henri Michel, Abel Rey, Pierre Duhem, Victor<br />
Brochard, Georges Sarton e outros filósofos e historiadores da ciência tem existido uma<br />
constante interpretação do eleatismo a partir das formulações de Zenão e sobretudo das<br />
aporias referidas na Física (VI, 9, 239 b, 240 a) de Aristóteles. Note-se como ainda em<br />
H. BERGSON, Essai sur les données immédiates de la conscience, Paris, 1889, ed. du Centenaire,<br />
Paris, P. U. F., 1959 , pp. 74-77 se formula uma crítica global ao eleatismo apoiada sobre<br />
as aporias de Zenão.<br />
1 Também nos The Principies qf Mathematics de B. RUSSELL (London,<br />
G. Allen & Unwin, 1903 , 1942) de um ponto de vista ulteriormente desenvolvido por<br />
outros autores do empirismo 1 lógico e da filosofia analítica, se encontra o pensamento de<br />
Zenão como modelo da filosofia eleitica. Só com os estudos de Sir Thomas HEATH,<br />
(A History qf Greek Mathematics, (1921 ) t. I, cap. VIII) e G. CALOGERO, (Studi sull'Eleatismo<br />
(1932)) é que se começa a distinguir 1 entre a fase do eleatismo de Parménides e a de<br />
Zenão. Ainda recentemente se nota o constante aparecimento de estudos e artigos sobre<br />
os paradoxos de Zenão como se pode documentar pela colectânea dos mesmos editada<br />
por W. C. SALMON, Zeno's Paradoxes, N. Y., Bobbs-Merrill Co., 1970, o que vem<br />
influenciar sobremaneira muito dos estudos sobre o próprio eleatismo parmenidiano.