Síxpavoi
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340 DIDASKALIA<br />
A descoberta da não-mesmidade no contexto próximo dos<br />
<strong>Síxpavoi</strong> repõe a interpretação de Parménides segundo a antiga<br />
concepção pitagórica do número. Os Stxpavoi seriam os poderes<br />
diádicos na sua sempre dúplice e irredutível virtualidade significativa:<br />
O dois como modelo do Aoyoç, da razão, quer como matriz de<br />
todos os outros números, nascidos dessa mãe que é a Díade, quer<br />
como momento de contemplação da Mónada, cujo absoluto é<br />
impensável, indizível e impossível .<br />
103<br />
A relação aritmológica entre a mónada, a díade e a tríade<br />
está longe de se poder supor como uma relação meramente formal,<br />
ora cardinal ora ordinal ou segundo qualquer outra modalidade,<br />
porquanto a mónada contém em si, de modo de si diverso,<br />
todos as outras instâncias numéricas de tal maneira que se pode<br />
dizer que tudo está em tudo. A tríade corresponde sempre ao que<br />
se pensa da mónada, filha da 104 díade revela o pai ignoto e sempre<br />
apresentada deste modo na simbologia hermética pitagórica e neo-<br />
-pitagórica persistente na cultura ocidental . A díade, como<br />
protótipo de todos os números ilimitados, tanto 105 representa a bipolaridade<br />
abstracta e primeira de um processo dialéctico que surge<br />
por um momento terciário, abrupta e inexplicável antítese ou<br />
absolutização de um momento relacional e negador dessa polaridade,<br />
como ainda num texto de Vorträge und Aufsätze, «Moira» (Parménides, 8, 34-41) se nota que a<br />
diferença está segundo Heidegger pensada como subordinada ao plano de mesmidade: «Gibt<br />
uns das Wort [Taúróv] eine Antwort auf die Frage, in welcher Weise das Denken dem<br />
Sein zugehöre, insofern es sagt, beide seien das Selbe? Das Wort gibt keine Antwort.<br />
Einmal deshalb, weil durch die Bestimmung «das Selbe» jede Frage nach einer Zusammengehörigkeit<br />
unterbunden wird, die nur zwischen Verschiedenem bestehen kann. Zum anderen<br />
deshalb, weil das Wort «das Selbe» nicht das Geringste darüber sagt, nacht welcher Hinsicht<br />
und aus welchen Grunde das Verschiedene im Selben übereinkommt.» (Op. cit., p. 37; sublinhado<br />
nosso).<br />
1 0 3<br />
Cf. ARISTÓTELES, Met. A, 6, 987 b, 25 e segs.; Ibid., 988 a, 12 e segs.; cf. também<br />
Ibid., A, 9, 991 a, 5; cf. M. T. CARDINI, Pitagorici, Testimonianze e Frammenti, Firenze,<br />
Nuova Italia, 1958-62-64. Discorda-se da opinião de MOURELATOS, The Route of Parmenides,<br />
p. 229 quando afirma: «The Greek language expresses indecision or vacillation typically by<br />
pairing words or stems such as Súo-, St-, SiCT-, Soi, Si/a, á}/.cpí with words of thinkings,<br />
will or desire.»<br />
1 0 4<br />
Cf. ANAXÁGORAS, frag. 6 (12) (D. K., t. II, p. 35): «roívTa rtavroç (J.otpav (LE-RÉ/E'.<br />
(...)» Id., frag. 11 (D. K., t. II, p. 37): «(...) èv TOXVTI TOXVTÒÇ [xoTpa (...).» Anaxágoras<br />
continua uma tradição aritmológica que explicita sempre a mónada como contendo em<br />
si todos os números. Veja-se a título de exemplo Corpus Hermeticum, trat. IV, § 10: «(/.ovàç<br />
oöaa oõv áp/_r] rcávTa àpt&fióv è[iTOpiéxei, úxò jrrjSsvòç i\inzpiz-/_o{j.ivriii. (Ed.por<br />
A. D. Nock e A.-J. Festugière, Paris, Belies Lettres, 1960, p. 53).<br />
1 0 5<br />
São muito numerosos os exemplos da persistência de estruturas triádicas no<br />
pensamento ocidental. Remeta-se apenas para o nosso estudo sobre a persistência do<br />
ritmo trinitário no pensamento de S. Boaventura: C. H. do C. SILVA, «Carácter rítmico<br />
da Estética Bonaventuriana», in: Rev. Portuguesa de Filosofia, t. XXX, 1-3, 1974 (pp. 291-292).